Krishna.Nunes 12/01/2024Uma aventura divertidíssimaJules Gabriel Verne, ou Júlio Verne, como costumava ser conhecido nos países de língua portuguesa, foi um profícuo escritor francês, considerado o pai da ficção científica. Seus romances repletos de aventura sempre usavam como elementos-chave as mais recentes tecnologias do seu tempo - trens, balões, máquinas a vapor, dispositivos elétricos - e muitas vezes anteciparam tecnologias que só seriam materializadas muito mais tarde, como navios submergíveis, foguetes, escafandros, máquinas voadoras e trajes espaciais.
O aprofundamento na construção dos personagens nunca foi um marco de sua obra, e geralmente não sabemos quase nada sobre os protagonistas, que são bem unidimensionais. Mas é no caráter extremamente imaginativo de sua obra, que uma criatividade prolífica constituiu em dezenas de histórias de aventura, que mora o encanto da literatura de Verne.
A volta ao mundo em 80 dias relata a viagem do impassível lord inglês Phileas Fogg ao redor do mundo, que precisa ser concluída em no máximo 80 dias para vencer uma aposta de valor vultuoso. Consigo ele arrasta seu carismático porém atrapalhado empregado Passepartout, cujas confusões atrasam cada etapa da viagem. À sua cola está sempre o agente Fix, que considera Fogg o principal suspeito de um audacioso furto a um banco inglês e sonha com a generosa recompensa pela prisão do ladrão. Phileas Fogg, que pode ser descrito como fleumático e um tanto melancólico, não poupa esforços nem recursos para finalizar sua jornada, dando a todo instante demonstrações de grande generosidade, desprendimento, honradez e heroísmo. Enquanto isso Passepartout, tão leal quanto subserviente, empenha-se de todas as formas que pode para ajudar seu amo, apesar de nem sempre com resultados positivos.
Todo o livro tem um caráter de corrida contra o tempo que torna a narrativa bem ágil, o que não se pode dizer das inúmeras descrições da geografia que os aventureiros encontram pelo caminho. Sendo um homem que nunca viajou e baseando seu conhecimento nos livros e relatos, as descrições dos cenários, pessoas, culturas e costumes feitas por Verne são tão detalhadas quanto incorretas, além de carregadas de preconceitos e da ideia de superioridade do homem europeu. Dessa forma, soam estereotipadas, machistas e racistas para o leitor contemporâneo.
Ainda assim os perigos improváveis e soluções mirabolantes encantam leitores de todas as idades até hoje (desde que a leitura conte com uma boa dose de suspensão da descrença, é claro). E não é difícil enxergar por que essa era uma história inovadora e divertida para os leitores do século XIX e se consolidou como um clássico da literatura.