spoiler visualizarPedro2725 06/07/2024
Da pobreza a riqueza a loucura
Eu não sou um especialista em Machado de Assis, na verdade esse é o terceiro livro dele que eu leio, porém eu percebi algo em comum entre os três protagonistas: a insanidade.
Em **Dom Casmurro**, o Bentinho tem diversos delírios ao longo da obra, desde quase matar o filho até os diversos pensamentos ao redor de qualquer coisa. Em **O Alienista**, o protagonista declara que todos ao seu redor são loucos, porém, no final do livro, ele percebe que talvez o louco seja ele.
E agora, em **Quincas Borba**, temos Rubião que é declarado insano por todos ao seu redor e é visível ao longo da trama como o personagem cria um mundo paralelo e no prelúdio de sua morte ele mal está no mundo físico.
Esse livro me encantou desde o principio, quando o narrador declara o *flashback* da maneira mais instigante possível e…
…Falando nisso, o narrador é um tópico importante a ser citado pois ele se comporta como um personagem da história e, portanto, não é confiável. Além dele trazer contexto e referência para a trama, muitas vezes ele traz uma opinião para os acontecimentos de forma implícita e, tal qual o Bentinho, leva ao leitor ao caminho que ele quer - porém, dessa vez, o narrador é Lúcido e tem noção da própria manipulação.
é nesse *flashback* que temos a apresentação de Quincas Borba:
Ele é um personagem apresentado como melhor amigo de Rubião, este sendo um frequentador assíduo da casa d’aquele. Quincas Borba é um filósofo tido como louco e, percebe-se ao longo da leitura que Rubião alcança a mesma alcunha do amigo. Pois, pouco depois da metade do livro ele se torna um filósofo conhecido na cidade do Rio de Janeiro, espalhando a filosofia de Quincas Borba.
Essa filosofia é a *Humanitas,* a ideia aqui é a “inimportância” do indivíduo dentro da humanidade como um todo. Ele (Quincas Borba) faz uma analogia com bolhas em uma água fervente - elas surgem e somem e a água não deixa de ser água, as bolhas são os humanos e a água a humanidade. Também é usado a ideia da permanência das ideias - se um exemplar de um livro é queimado, o livro não deixa de existir.
É exemplificando essa teoria que Quincas Borba conta a história terminada na célebre frase “Ao vencido, ódio e compaixão; ao vencedor as batatas!” - aqui ele fala de outra vertente da teoria *Humanitas,* em que ele defende que há males que vem para o bem, por exemplo, diversas curas e tratamentos só existem por que suas respectivas doenças mataram diversas pessoas. No caso, a morte das diversas pessoas é o mal que veio para o bem (a cura) - Isso na visão do Quincas Borba.
A pseudofilosofia é uma crítica de Machado aos diversos *-ismos* que existiam na época, como o positivismo e o darwinismo social. A ideia de que um genocídio pode vir para o bem é propositalmente brutal e, de sua maneira, exagerada, pois é assim, como o uso de sua clássica ironia, que Machado promove sua crítica aquelas teorias que, muitas vezes, iam contra a própria existência dele, como homem negro.
Mais um ponto a ser debatido é o título do livro. Alguns dizem ser devido ao cachorro que o filósofo batizou com o seu próprio nome e que Rubião herdou após a morte dele. Tal cachorro é descrito, muitas vezes, como uma reencarnação do filósofo, tendo o olhar dele para Rubião. Para mim, o título se dá pois o fim de Rubião é muito semelhante ao do amigo. Ambos morrem perto da insanidade, por um motivo questionável e em uma cidade diferente da qual passaram a maior parte da vida.
Finalizando, Quincas Borba é um clássico realista e isso é nítido na maneira que é explorada a alta sociedade carioca, principalmente na infidelidade do todos os tipo.
O livro, um tanto arrastado, ao meu ver, principalmente a partir da segunda metade, em que o Rubião perde muito espaço na trama e a gente começa a acompanhar a vida daqueles que o cercam. Mas, no final das contas é um bom livro que da margem para discussão de diversos assuntos, alguns dos quais eu nem trouxe para tópico nesse vídeo.
Precisamos aqui recomentar o vídeo publicado pela editoria Antofágica que se refere a esse livro: **As metáforas de QUINCAS BORBA e a crítica social de Machado de Assis (Parte 02)**
Gostaria de recomendar também o vídeo do canal Ora Thiago que se refere, a princípio ao Machado, mas que vai além dele: **Um dicionário para ler Machado de Assis: Reflexões doidas sobre leitura**
E por último o vídeo **Quando os gringos descobrem a literatura brasileira 👀** do canal Literature-se