Núbia Esther 23/04/2011Quando se fala em literatura fantástica, o que vem logo a mente são autores europeus ou americanos. É compreensível já que a tradição das obras de fantasia nestes povos é mais antiga, mas não é desculpa para achar e propagar que a literatura brasileira não tenha autores representando esse gênero. Ainda que essa incursão seja recente e que muitos autores “bebam” nas obras de grandes ícones como Tolkien e Le Guin, o que é de se esperar já que muitos dos escritores de fantasia da atualidade se inspiram e são fãs desses grandes autores. O fato é que tem obras fantásticas de qualidade sendo produzidas no Brasil e que merecem um pouco mais de atenção dos que adoram esse gênero da literatura. Hoje apresento-lhes um romance fantástico de qualidade escrito por um brasileiro. Seu nome é Thiago Tizzot e ele escreveu sob o pseudônimo de Estus Daheri o romance O Segredo da Guerra publicado pela editora Arte & Letra.
Thiago Tizzot é curitibano, autor, editor e um dos responsáveis pela editora Arte & Letra, além de grande fã de Tolkien contribuindo inclusive para que obras como As Cartas de J. R. R. Tolkien fossem publicadas no Brasil. Thiago é um grande apaixonado por literatura fantástica e um grande divulgador desse gênero. Para conhecer um pouco mais sobre o autor, leia a entrevista que a Anica fez para o blog Meia Palavra: 10 perguntas e Meia para Thiago Tizzot (http://blog.meiapalavra.com.br/2009/11/09/10-perguntas-e-meia-para-thiago-tizzot/).
Com uma história de fundo, no livro referida como sendo uma “lenda”, que remete ao Senhor dos Anéis (ainda que isso possa ser exagero da minha mente viciada em Tolkien) Tizzot delineia os caminhos que sua história irá tomar. Essa antiga “lenda” conta que antigamente existiram artefatos que foram utilizados para subjugar os povos livres de Breasal. Esses artefatos foram escondidos e suas localizações escritas em um pergaminho guardado na biblioteca de Krassen. Acontece que alguém tentou roubar a biblioteca e tudo leva a crer que os ladrões queriam o pergaminho. Varr, um paladino seguidor de Haure e membro do grupo de aventureiros Basiliscos, torna-se encarregado de descobrir quem é o ladrão e qual o seu conhecimento sobre os artefatos.
“Agora eu era um Guardião, a única defesa do mundo contra a injustiça dos Artefatos. Não podia e nem iria decepcionar Araman. Eu pegaria o ladrão pela minha fé e com a ajuda de Haure.”
A missão Varr tem início no ano de 1704, a partir de então passamos a acompanhar a peregrinação do paladino por toda Breasal atrás do ladrão, três anos Varr perseverou em sua busca e durante três anos o ladrão conseguiu escapar. Em 1707, somos apresentados a Kólon, outro membro do grupo dos Basiliscos, um aventureiro sem eira nem beira que acabou se tornando general do exército Anão e se vê diretamente envolvido em uma guerra entre anões e elfos. Essas duas histórias poderiam seguir rumos diversos, se seus personagens não fossem membros dos Basiliscos. Kólon convoca todos os membros do grupo (além dos dois, Estus, Lingen, Wahori e Krule) a ajudá-lo na guerra, com a reunião do grupo as histórias que começam de forma independente, entrelaçam-se por intricados caminhos e a história toma forma e cresce em toda sua complexidade.
É perceptível a influência da obra tolkieniana na trama de Tizzot, p. ex. os lumpas (“um povo pequeno e discreto. [...] ...animados e adoram narrar contos. [...] Sua altura alcança a cintura de um humano adulto”), tirando a ausência de pés peludos, acho que não é difícil perceber em qual povo ele se inspirou. Porém, ainda que se perceba essa influência nas raças escolhidas, nota-se que Thiago inspirou-se em Tolkien, mas criou uma mitologia própria, com deuses únicos e estrutura social diversa o que é um ponto extremamente positivo. Afinal, todo fã tolkieniano adora ler e perceber referências às obras do professor e quando estas são feitas com propriedade e de forma original contribuem para uma maior identificação com a obra, é genial. Outra abordagem feita pelo Thiago que gostei muito foi o fato dele ser um dos personagens da história. É muito comum os autores quando estão escrevendo se identificarem com uma personagem e acabarem conferindo a ela características suas, mas Thiago foi além e decidiu colocar-se como agente na história, seu alterego escancarado é Estus o mago do grupo dos Basiliscos e além dele nos permitir um maior contato com o autor também deixa claro o quanto o RPG influenciou Thiago na construção do seu livro. Foi no RPG que Thiago buscou a inspiração para a estruturação da narrativa de sua obra, a história é narrada em primeira pessoa, mas esta é sempre aquela à que o capítulo “pertence”, assim como em uma rodada do jogo temos capítulos narrados por cada um dos Basiliscos. E como em um jogo de RPG, alguns eventos são narrados mais de uma vez, sob o ponto de vista de diferentes personagens. Alguns poderiam dizer que isso poderia deixar a narrativa cansativa, muito pelo contrário, nos confere uma visão ampla sobre os acontecimentos e deixa o acompanhar do desenrolar mais emocionante.
Um grande gancho é deixado no final, espero que a continuação da história de Breasal não tarde a ser publicada. Apesar de o livro ter sido publicado em 2005, procurei, mas não encontrei informações sobre um segundo volume. Se alguém tiver alguma informação me avise!
[Blablabla Aleatório] - http://feanari.wordpress.com/2011/03/20/o-segredo-da-guerra-estus-daheri/