Erich 15/05/2023
Um livro para amar, para refletir, para sofrer de amor, para sofrer, para reler. Neste compilado de cartas, Goethe amarra a trama de modo magistral. Ao ler as cartas, sinto como se estivesse ao lado de um velho amigo ouvindo sobre o seu dia.
Único alerta: o livro é dividido em duas partes. A primeira parte eu recomendo fortemente para qualquer pessoa. A segunda parte é necessário tomar cuidado. Caso você tenha passado recentemente por um intenso sofrimento amoroso, não recomendo ler a segunda parte do livro.
No princípio da trama acompanhamos os dias do jovem Werther e o ouvimos como a um amigo. Acompanhamos suas reflexões da realidade e, nesta fase, já temos um bom livro se descortinando. Surge então a primeira transição de fase: "Tome cuidado para não se apaixonar, ela já está comprometida com um rapaz sério e honesto". Já é possível inferir, deste trecho o que virá a seguir. Apesar de evidente, é uma surpresa constante apreciar a profundidade do narrado. Mergulhamos junto com ele na desenfreada paixão. Somos conduzidos quase que a agir como ele próprio agiu anteriormente, e nos encantarmos pela descrição que faz, vendo-a "através dos olhos de seu amante". Que ages de modo contraproducente é evidente, mas somos quase levado a esquecer disto. Até que, como seria de se esperar, chegamos à próxima transição de fase: "Em suma, Wilhelm , o noivo está aqui!" E vemos seu desespero se descortinar. O relato que antes já era envolvente, torna-se ainda mais. Como que a ouvir um amigo em desespero numa mesa de bar a narrar suas aflições e desejos.
"E eu, meu amigo, convenci-me novamente, a partir deste pequeno caso, de que mal-entendidos e indolência talvez produzam mais equívocos no mundo do que a astúcia e a maldade. Estas duas, pelo menos, certamente são mais raras."
"Sei muito bem que não somos nem podemos ser todos iguais. Acredito, entretanto, que todo aquele que julga necessário distanciar-se do assim chamado povão, a fim de manter o devido respeito, é tão condenável quanto o covarde que e esconde do inimigo por medo de ser vencido."
"A espécie humana é sempre igual, não muda nunca. A maioria gasta quase todo o seu tempo para sobreviver, e o pouco que lhe resta de liberdade causa-lhe tanta preocupação que ela busca por todos os meios livrar-se desta carga"
"Estou contente e feliz, portanto sou um péssimo narrador. um anjo! Arre! Todos dizem isso da sua amada, não é mesmo?"
"Como me sinto bem por meu coração poder sentir os prazeres simples e inocentes de um homem que põe em sua mesa o repolho que ele próprio cultivou - e que agora degusta, num único momento, não apenas o repolho, mas todos os dias ensolarados, a bela manhã em que o plantou, a noite tépida em que o regou, e a alegria que sentiu ao vê-lo crescer."
"'O senhor afirmou que o mau humor é um vício; acho isso um exagero.' 'Em absoluto', repliquei, [...]
Aponte-me uma pessoa que, estando de mau humor, seja estóica o suficiente para ocultá-lo e suportar tudo sozinha, sem destruir a alegria dos que estão ao seu redor"