Paulo 17/01/2021
É impressionante como o Demolidor se mantém como um dos personagens com o maior histórico de boas histórias na Marvel. Depois de me deleitar com as fases de Brian Michael Bendis e Ed Brubaker, e perder a chance de ler as de Mark Waid e Charles Soule, também bastante elogiadas, resolvi apostar na nova fase escrita por Chip Zdarsky. Chamou-me a atenção a indicação ao Eisner, e, claro, o fato da Panini zerar a numeração do título. Ou seja, vamos começar do #1.
A fase anterior, escrita por Charles Soule terminou com Matt Murdock sendo gravemente ferido em um atropelamento. Assim, Zdarsky começa sua história com Matt em processo de recuperação física e mental. Mesmo longe de sua melhor forma, ele ainda sente uma enorme urgência para sair às ruas e patrulhar. Porém, além da debilidade, pesam contra ele uma lei anti-vigilantismo de Wilson Fisk, o Rei do Crime, agora prefeito de Nova York, que vem promovendo uma caça aos heróis mascarados, e a chegada de um policial linha-dura transferido de Chicago, o detetive Cole North, que é veementemente contra a atuação de vigilantes mascadores e parece determinado a colocá-lo atrás das grades. Fraco, debilitado e ainda tomando analgésicos, o herói comete mais erros do que o normal. Em meio a um confronto direto contra três bandidos, um deles acaba morrendo e o Demolidor leva a culpa. Mas Matt tem certeza de que não matou o criminoso, e espera conseguir provar uma armação contra ele. Mas quem? Em “Só Medo”, acompanhamos o herói lutando para limpar o seu nome, e tendo que lidar com as consequências do ciclo de violência proveniente da sua atuação como vigilante mascarado. Pra piorar, o detetive North está em toda parte – e não gosta nadinha do Demolidor.
Destaque para o desenho de Marco Checchetto, que é lindo: realista, expressivo, com composições bem bonitas e boas sequências narrativas de ação.
Enfim, “Só Medo” é um início extremamente promissor de uma fase que tem tudo para ficar ao lado dos grandes clássicos do herói. Além disso, este arco do Demolidor é perfeito pra quem conhece a origem do personagem, mas não acompanha quadrinhos, e quer apenas ler uma boa história do personagem... Zadarsky mergulha fundo nas motivações e na psique de um personagem fraco e debilitada, prestes a ter um colapso nervoso, nos entregando um thriller psicológico repleto de cenas de ação de tirar o fôlego. Além disso, Zdarsky trabalha muito bem os temas que se propõe a discutir - os diálogos fantásticos entre Matt e o padre de sua paróquia dão o tom introspectivo da obra e são usados para explorar a relação entre justiça e violência, além de ser um retorno ao lado católico do personagem, sempre em conflito com suas ações como Demolidor. Os diálogos são naturais, ácidos, a leitura é muito dinâmica, e a trama, muito inteligente, vai muito além de uma história de herói, abordando o passado e as motivações do herói para abordar temas como vigilantismo e principalmente a relação entre justiça e violência - além de abordar de maneira inteligentíssima a relação do herói mascarado com os policiais da cidade.
Afinal, será que a violência as vezes é justificada, ou ela será a ruína de homens íntegros como Matt Murdock? É um início promissor e vale a pena acompanhar essa história que tem um pouco de tudo que gosto em histórias de herói: uma narrativa simples e uma história envolvente, emoção e adrenalina, belos desenhos, e uma história que promove discussões interessantes para o leitor.