Coruja 27/05/2020Último livro da série Rokesby, First Comes Scandal foi lançado agora no final de abril e está previsto para publicação cá no Brasil agora em julho, com o título Uma Noiva Rebelde. A capa foi revelada e mantém o padrão do resto da série por aqui, mas, para minha felicidade, a Arqueiro decidiu mudar o padrão a partir da trilogia Bevelstoke - eu acho essas capas desenhadas muito mais bonitas que as fotografadas.
A história desse volume segue o mais novo dos irmãos Rokesby, Nicholas, e a caçula dos Bridgerton, Georgiana (o irmão de Georgie, Edmund, é o pai da multidão de Bridgertons que tem sua própria outra série de livros). Georgie estava sendo cortejada por um rapaz da sociedade que se revela um canalha caça-dotes, e que, antes mesmo do começo do livro, rapta a moça para levá-la para Gretna Greene, para um casamento rápido. Georgie, que não aprecia a tentativa de forçar sua mão, consegue fugir, mas a essa altura dos acontecimentos sua reputação está arruinada, não importando que nada tenha acontecido e que ela mesma não tenha culpa de nada.
Nicholas, por sua vez, é intimado a deixar os estudos de medicina em Edimburgo e comparecer a ancestral casa dos Rokesby pelo pai, que é padrinho de Georgie e deseja que o filho case com a moça para livrá-la do escândalo. A essa altura talvez seja bom lembrar que os Rokesby e os Bridgerton são vizinhos há anos, e a presente geração nutre profunda amizade, além de alguns casamentos já sacramentados entre as duas famílias. Nicholas reluta a princípio, mas acaba aceitando a ideia e, após alguns soluços pelo caminho, os dois se casam.
No contexto geral da série Rokesby, First Comes Scandal não tem aquele mesmo encadeamento que outros livros da Quinn possuem, de dialogar com seus antecessores: com exceção de Billie, irmã mais velha de Georgiana e heroína de Uma Dama Fora dos Padrões, não há recorrência de outros personagens; nenhum dos outros irmãos Rokesby aparece. Posso entender a ausência de Edward (Um Marido de Faz de Conta) e Andrew (Um Cavalheiro a Bordo), mas pelo menos George estava pelas redondezas e é citado acompanhando Billie. Será que não havia espaço para pelo menos uma conversa entre Nicholas e seu irmão mais velho?
Em compensação, temos uma aparição de Anthony, Benedict e Colin ainda crianças, além de Edmund e Violet. Só por esse presente já teria valido à pena a leitura.
Se First Comes Scandal deixa um pouco a desejar no seu encaixe dentro da série de que faz parte - que é uma característica da Quinn e só por isso a gente sente falta -, é um romance que funciona bem como um volume único. Eu continuo a sentir um pouco de falta daquelas cenas de família entre irmãos que tanto me fizeram rir em outros livros da autora, mas isso não significa que haja uma ausência absoluta de intromissões familiares - afinal, Nicholas é instigado a pedir a mão de Georgie por ultimato paternal.
Nicholas é responsável, constante, equilibrado, mas tem senso de humor e não adere de forma indiscriminada ao padrão social que se espera do mundo na época. Isso é importante porque Georgie - embora se veja numa situação insustentável - não deseja ser vista como dama em apuros a ser resgatada. Ela chega a negar o pedido do rapaz num primeiro momento por conta disso. Nesse aspecto, First Comes Scandal é um pouco diferente de outros romances da Julia Quinn, dando espaço a uma reflexão sobre papéis de gênero. Georgie é capaz, inteligente e curiosa, se interessa por aquilo que Nicholas tem a contar sobre seus estudos e questiona mais de uma vez porque ela, como mulher, não poderia também estudar medicina.
De resto, gosto do relacionamento do casal. Eles se respeitam, confiam um no outro desde o início; a familiaridade confortável que possuem facilita seu casamento. Pelo histórico de amizade prévia entre os protagonistas, aliás, esse livro me lembrou Simplesmente o Paraíso, o primeiro volume de outra série da mesma autora, o quarteto Smythe-Smith. Isso o torna uma leitura muito leve, com seus momentos divertidos, sem grandes aflições. Fiquei até com a impressão de que era um volume mais curto que o padrão porque não acontece tanta coisa; diferente dos primeiros livros escritos pela Quinn, que você quase não tinha como tomar fôlego e já vinha outro crescendo de tensão.
Falei um bocado sobre o que não tem no livro, mas devo dizer que gostei muito da leitura. Como já disse antes por aqui, às vezes a gente precisa de uma dose de açúcar direto na veia. First Comes Scandal veio numa hora em que ele era exatamente o que eu estava precisando. Em certos aspectos, considerando toda a bibliografia da Quinn, achei um livro mais maduro, sem fugir às características que marcam o estilo dela. O final é um pouquinho abrupto, mas no cômputo geral, satisfatório.
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