Jaqueline 27/12/2010Se você gosta dos livros da série literária “Irmandade da Adaga Negra“, a série “Senhores do Mundo Subterrâneo” é para você! Neste primeiro volume, somos apresentados ao universo fantástico de guerreiros criados pelos antigos deuses gregos. Com o orgulho ferido por não terem sido escolhidos para velar a dimOuniak, uma caixa que continha uma horda de demônios malignos, estes doze guerreiros decidem roubar e abrir a caixa sagrada de Pandora. Too bad! Como castigo, eles foram condenados pelos deuses a abrigar dentro de si um dos demônios liberados. Tomado pelo demônio da Violência, Maddox acabou por matar Pandora, esfaqueando-a seis vezes na barriga. Além de carregar um demônio dentro de si, ele ganhou a maldição extra de morrer da mesma forma pelas mãos de seus amigos todos os dias, ardendo no inferno durante a noite e voltando à vida pela manhã.
“A Noite mais Sombria”, lançado no Brasil no mês de agosto pela editora Harlequin Books, não deixa a desejar: em meio a uma trama sobrenatural com toques de mitologia e doses fortes de violência, temos uma história muito bem desenvolvida e extremamente sensual! É um livro para mulheres adultas, e não literatura infanto-juvenil. Em um momento muito curioso e até mesmo metalinguístico, a autora define este tipo de literatura como “contos de fada para adultos“, e é assim mesmo que funciona: um mundo de mitos e fantasias que encantam e prendem o leitor s páginas do livro.
É desta forma que somos apresentadas a Maddox (guardião da Violência), Lucien (guardião da Morte, encarregado de entregar almas humanas ao Inferno, ao purgatório ou ao Paraíso), Reyes (guardião da Dor, que sofre da necessidade absurda de se autoinfligir dor), Aeron (guardião da Ira), Torin (guardião da Doença, incapacitado de tocar qualquer pessoa sem fazer uma doença mortal se propagar) e o deliciosopapaieuqueroumdesses Paris (guardião da Luxúria, um ninfomaníaco que não consegue fazer sexo duas vezes com uma mesma mulher). Estes seis guerreiros habitam uma mesma residência em Budapeste, onde vivem mais ou menos isolados da população local, que os considera seres angelicais e mantêm a devida distância dos mesmos.
Em um cotidiano de dor, revolta e súplicas não ouvidas pelos mitológicos deuses, Maddox trava uma verdadeira batalha dentro de seu corpo e sua mente dia após dia, tentando controlar a Violência dentro de si. Para quem não esperava encontrar mais nada de bom e positivo em sua vida, o desejo que passa a sentir por uma jovem com cabelos cor de mel que encontra vagueando pelos limites da mansão dos Senhores do Submundo provoca uma verdadeira reviravolta em sua existência. Trata-se de Ashlyn Darrow, pesquisadora do Instituto Mundial de Parapsicologia que escuta vozes o tempo inteiro e partiu em busca destes misteriosos homens para pedir-lhes ajuda. Este dom/maldição de Ashlyn é muito bem trabalhado pela autora: ao chegar em um local, a jovem consegue ouvir todas as conversas travadas no passado recente ou distante daquele lugar, o que obviamente é demais para a pobre moça. No entanto, em uma sintonia muito “Crepúsculo“, ao lado de Maddox só existe silêncio para Ashlyn.
É impossível não se apaixonar pela história criada por Gena Showalter. Além das histórias de antigas maldições, a esfera psicológica de cada personagem – com todos os seus problemas, contradições e embates – se torna muito clara para o leitor. A trama, contudo, ainda mantém ganchos que alimentam nossa curiosidade, como a queda dos antigos deus gregos e o retorno dos Titãs como governantes e a organização humana dos Caçadores (Hunters), que pretendem encontrar a caixa de Pandora e aprisionar novamente os demônios que habitam cada um dos guerreiros nela, exterminando estas pragas da Terra – assim como seus portadores.
Cada livro da série foca em um dos doze guerreiros amaldiçoados na antiga Grécia. Kane (guardião do Desatre), Gideon (guardião da Mentira, incapaz de falar uma mera verdade sem sentir indescritível dor), Sabin (guardião da Dúvida, que “planta” dúvidas na mente das pessoas com sua fala), Strider (guardião da Derrota, viciado em jogos e apostas, incapaz de perder), Cameo (a única mulher guerreira, guardiã da Infelicidade) e Amun (guardião dos Segredos) entram um pouco mais tarde na história, mas também terão suas tramas detalhadas em livros próprios. Uma dica – prestem muita atenção em Anya, deusa menor da Anarquia: além de ser extremamente cativante, ela tem suma importância no final feliz deste livro, além de ser a protagonista do segundo volume da série!
A tradução deixa um pouco a desejar em dois momentos que explicitarei aqui: primeiramente, esbarramos no problema da censura. Muitos dos romances adultos lançados aqui têm sua linguagem “suavizada” pela tradução, o que é, no mínimo, revoltante. Acredito que se a autora se empenhou tanto para ter sua obra escrita e publicada tal como foi, isto deveria ser preservado nas traduções pelo mundo. Sim, existem cenas de sexo e linguagem vulgar no livro, não vejo porque mudar o sentido original da obra – quem não gosta deste tipo de literatura, que não a compre. Em segundo lugar, há mudanças que não seguem nenhuma lógica, como o demônio que Paris abriga, “Promiscuity“, virando “Luxúria” no português, quando sua tradução literal faz perfeito sentido dentro da obra e é amplamente utilizada na nossa língua. Por estes motivos, retirei um pontinho na cotação do livro em português, mas assino embaixo e recomendo “A Noite Mais Sombria” para todos! A leitura é viciante, nos deixando com um gostinho de quero mais.
P.S.: Assim que terminei esta leitura, parti para sua continuação, “O Beijo mais Sombrio“, cujo protagonista é Lucien, o guerreiro portador do demônio da Morte. EM BREVE a resenha dele estará na Up! Brasil.
>> Resenha originalmente postada em www.up-brasil.com