@apilhadathay 16/10/2012
O-O
Os Lusíadas é uma obra secular publicada em 1572, apenas 12 anos antes da morte de seu sofrido autor. Pulsa, em suas entrelinhas, o bom patriotismo lusitano e cada estrofe nos lembra disso. Este livro mostrou sua importância não apenas histórica como pessoal desde que seu manuscrito foi salvo durante um naufrágio pelo próprio autor – que perdeu a amada, no evento, e quase perdeu a própria vida.
É a primeira obra a celebrar as glórias do Império de Portugal, um país que à época era ícone da navegação, berço de grandes desbravadores que cruzaram águas desde a Índia até as Américas, "por mares nunca d'antes navegados". Através desta poesia épica, Camões propõe que agora se revela um valor mais alto do que os inspirados pela Musa Antiga [a Eneida e a Odisseia, referências no gênero, que narraram os grandes feitos de Roma e da Grécia, respectivamente].
Não vou dizer que é um livro fácil de se ler. Levou 400 anos de história e 10 anos no pós-escola para eu ler esta versão da Ática! Não que me orgulhe da demora. Em meio a toda a infelicidade e pobreza por que Camões passou, a obra se tornou uma obsessão sua, e o fez encarar a peste, um naufrágio, a perda de um amor. Capaz de pôr a paixão por sua terra acima de qualquer outro valor, Camões é o homem que viveu no período privilegiado da transição entre a Idade Média e o Renascimento, com as descobertas científicas e tecnológicas que agitaram aquela época. Pelo contexto em que foi escrito e publicado, este livro merece ser lido, no mínimo, com respeito.
O que mais me admira na obra é o conhecimento que o autor tinha da língua, além de sua disciplina e das rimas perfeitamente colocadas para terem sonoridade e fazerem sentido. O original tem 10 cantos, cada um com um número diferente de estrofes – tendo o maior 156 e o menor, 87 – com versos decassílabos que seguem uma perfeita métrica e simetria na rima, no padrão 1-3-5 / 2-4-6 / 7-8. É uma poesia épica tradicional que segue o esquema Proposição, Invocação, Dedicatória, Narração e Epílogo. Não, não li a versão integral.
Nele, é narrada a viagem de Vasco da Gama às Índias, e todas as dificuldades que os tripulantes enfrentaram naquela empreitada. Há o fator mitológico que tem grande força na narração, de modo que se atribuem os sucessos e problemas a uma interferência direta dos deuses do Olimpo, tais quais Marte e Vênus, que estariam a seu lado, e Baco mais Netuno, que seriam contra o seu sucesso na aventura.
Vemos figuras como Inês de Castro, a que “depois de morta foi rainha”; o Gigante Adamastor, a tempestade protetora do Índico; e também a Máquina do Mundo, que mostra a visão geocêntrica da época. O próprio autor considerava o desenvolvimento racional mais importante que os avanços científicos e isto nos permite ver uma faceta de sua personalidade singular.
Não posso dizer que foi uma leitura divertida...
Encontrei palavras novas em um número mais alto do que seria viável postar no blog, mas a obra tem grande importância histórica para Portugal e isto é igualmente inegável. Pretendo lê-la em prosa, em breve, para poder me aprofundar no texto e, quem sabe, tomar mais gosto pelas aventuras de Luís e suas ninfas.
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Ver resenha completa em:
http://canto-e-conto.blogspot.com/2011/07/resenha-os-lusiadas-luis-de-camoes.html