hwatelier 28/12/2023
?N'uma mão sempre a espada, e n'outra a pena.?
No século XV, acontece a fase áurea das Grandes Navegações portuguesas. Ao longo deste período, Portugal conquista Ceuta em 1415, encontram uma nova alternativa de rota para as Índias e, por fim, chegam ao Brasil. A impetuosa Era dos Descobrimentos é, então, o proscênio real de Os Lusíadas.
O poema narra o período das grades navegações, da dilatação da fé e do Império e dos feitos heroicos de Portugal. Para isso, Camões faz uso da Epopeia para contar a história d?Os Lusíadas, um poema extenso de narrativa grandiosa e beligerante que trata do percurso de um herói, um homem de estremadas virtudes, que representa uma determinada coletividade. A escolha de uma poesia épica é proposital, pois somente um gênero que entoa feitos grandiosos e capaz de emblemar um mito coletivo seria a melhor alternativa para narrar as grandes realizações de Portugal e, assim, criar um paradigma de identidade portuguesa.
Em Os Lusíadas, é nas viagens pelo mar que a aventura toma forma. Camões faz uso de impactantes instrumentos discursivos na construção de uma narrativa que estabelecia a relação entre a identidade portuguesa e o mar, principalmente relacionada às navegações. A travessia do mar sustenta uma carga metafórica em que o domínio deste atravessamento representaria também a travessia da própria condição humana, conduzindo a tripulação para um novo conhecimento de mundo através de provações, dando aos portugueses a capacidade de dominação marítima a partir da superação destas tormentas representadas por figuras sobrenaturais e monstruosas. Isto se materializa na aparição de Adamastor, uma figura monstruosa, mas humana, que representa um colossal impedimento aos portugueses. Quando Vasco da Gama consegue dominar as forças obscuras que tentavam transformar sua viagem para o conhecimento numa viagem que se direcionava para a destruição, superando o medo em desejo de conhecimento, o fenômeno sobrenatural transforma-se em acidente geográfico natural e a tripulação finalmente é capaz de continuar a travessia. No momento em que Gama consegue dobrar o que antes era conhecido como Cabo da Tormenta, confirmando que os oceanos Atlântico e Índico se ligavam, é quando surge a esperança de chegar às Índias por via marítima. Assim, a partir deste domínio, os portugueses seriam capazes de continuar seu projeto de expansão territorial através das grandes navegações, legitimando seu poder hegemônico.
A arquitetura mítica construída por meio do poema desperta seu aspecto profético quando, em 1578, o rei D. Sebastião desaparece em Alcácer-Quibir, precedendo os acontecimentos traumáticos da década seguinte.
Luís Vaz de Camões atribui a sua obra características renovadoras, valorizando a cultura portuguesa, destacando sua singularidade, apresentando a história de Portugal e as glórias do país por meio de suas conquistas. Dessa forma, a obra representa um símbolo de identidade e legado cultural, contribuindo para a difusão da memória portuguesa para as gerações futuras e, portanto, mantendo-se viva ao ser lida e discutida em escolas e universidades até os dias de hoje.