Ivana M. 29/09/2024
Psicológico
"O Alienista", uma das obras-primas de Machado de Assis, é um conto irônico e repleto de críticas sociais que expõe as complexidades da mente humana e a tênue linha entre a razão e a loucura. A narrativa acompanha o Dr. Simão Bacamarte, um renomado médico que decide se dedicar ao estudo da mente humana, fundando um hospício na cidade de Itaguaí, chamado Casa Verde. Com uma determinação inabalável, Bacamarte inicia uma verdadeira cruzada pela saúde mental, internando os que considera insanos.
A crítica social de Machado de Assis brilha por meio da sátira às instituições e à ciência, questionando o poder absoluto dos especialistas e a arbitrariedade dos conceitos de normalidade e loucura. A maneira como Bacamarte se arroga a autoridade sobre quem deve ser internado e quem não deve demonstra o quão tênue e maleável pode ser o conceito de sanidade. Ao longo da narrativa, percebe-se como o poder corrompe e como a população de Itaguaí passa de uma adulação cega ao ceticismo em relação às ações do alienista. A obra, portanto, levanta reflexões importantes sobre o autoritarismo e a cegueira do povo diante da ciência e do poder, algo ainda incrivelmente atual.
O protagonista, Simão Bacamarte, é uma figura peculiar e fascinante, que representa o arquétipo do cientista obcecado pela busca da verdade. Machado constrói Bacamarte como alguém que, apesar de ser movido pelo desejo de entender a mente humana, acaba preso em sua própria arrogância. Sua trajetória de racionalidade extrema beira a loucura, e seu comportamento meticuloso revela um contraste irônico: quanto mais ele se esforça para compreender a sanidade, mais ele próprio se distancia daquilo que seria considerado "normal". A obsessão de Bacamarte culmina em uma inversão dramática de valores, levando-o a questionar a própria sanidade e a reconsiderar suas ações de forma inesperada.
Machado de Assis usa sua característica ironia fina e humor sutil para desvelar a hipocrisia da sociedade e os perigos da racionalidade desmedida. "O Alienista" é uma obra que continua a nos fazer refletir sobre os limites da ciência, o poder do conhecimento e as armadilhas da ambição pessoal, sendo uma crítica brilhante e atemporal à condição humana.