Cassiel 21/02/2023
Quando lemos essa obra de Kafka podemos entender melhor o porquê de seu nome ter se tornado um adjetivo: kafkaesco (ou kafkiano, a depender de questões de tradução). A narrativa peculiar do autor, e as fortes sensações (muitas vezes negativas) que é capaz de transmitir através da leitura, compõem, certamente, uma das maiores obras do séc. 20.
"O processo" descreve a experiência do personagem Josef K. ao descobrir que é vítima de um processo, que o acusa de algo que nem o leitor, muito menos K., podem saber (e nem saberão). A construção do cenário e dos personagens faz nascer um labirinto no qual a lógica e a esperança de um desfecho racional são erradicadas. A sensação é de claustrofobia, pois por mais que K. se esforce não sai do lugar.
Nada está ganho, mas nada está perdido. muito se pode fazer em favor do acusado, mas nada leva à consequências efetivas. tudo depende ao mesmo tempo dos moldes rígidos das leis e também das relações pessoais e orgânicas com os funcionários do cartórios e dos júris, mas ao final não são estes que influenciam decisivamente na conclusão do caso. tudo é imprescindível e, em contra partida, inútil. Dessa forma, é de se imaginar que apenas se deva deixar levar, na medida que mudar o curso do processo é impossível, como se K. fosse refém do grande organismo jurídico que lhe prende e lhe comanda. A racionalidade e a clareza despem-se de todo seu valor diante da casualidade banal da violência do destino. Afinal, o resultado do processo, aparentemente, é definido único e exclusivamente pelo que fora destinado a ser desde seu nascimento
O livro também, de forma irônica, constituí uma crítica às camadas impenetráveis das leis, que em última instância, deveriam ser acessíveis a todos. Nesse processo, estranhíssimo e particular, participam infinitos juízes, procuradores, "espancadores" e etc., numa hierarquia que se estende até onde a vista alcança.
O próprio posfácio dessa edição cita inúmeras interpretações do que a história pode simbolizar e teorias dos mais diversos campos. Enquanto alguns dizem que o processo seria uma metáfora para a complicada relação do autor com o pai, alguns dizem que é sobre a relação com uma das noivas de Kafka. De qualquer forma, vale a pena conferir e decidir por si mesmo qual dessas ideias parece mais adequada !