Jazi @jazibooks 28/09/2022Atemporal e necessário Publicado postumamente em 1925 e traduzido pelo Prof. Modesto Carone, O Processo é um clássico de Kafka, uma obra intrigante e perturbadora em que o autor tece uma crítica direta a um Poder Judiciário distópico e arbitrário, uma história complexa e atemporal que começa com a seguinte frase: “Alguém certamente havia caluniado Josef K. pois uma manhã ele foi detido sem ter feito mal algum.”
Nesta obra, Josef K. é um bancário que acaba de completar 30 anos e é detido em seu próprio quarto por dois guardas, sendo informado de que está sendo processado por alguma razão que ele desconhece e que aqueles homens alegam não ter permissão para lhe contar. O protagonista se vê então com a absurda missão de descobrir as razões de estar sendo processado, mantendo a esperança de que tudo aquilo não passe de um mero mal entendido.
Em que pese a detenção, Josef não chega a ser preso de fato e é mantido em liberdade, seguindo sua vida normalmente, porém, agora, com o peso de um processo que ele desconhece as razões e que o faz lutar contra o tempo para descobrir quem o denunciou, do que estava sendo acusado e qual lei amparava toda aquela situação.
A história se desenvolve nesse cenário, em que Josef vai enfrentar uma dura e burocrática jornada na busca pelo porquê de estar sendo acusado. Nessa busca, ele vai peregrinar por salas de difícil acesso, cartórios e Tribunais e se verá obrigado a contratar um advogado, tendo com este uma relação que é no mínimo conflituosa.
Toda essa busca acaba afetando todas as áreas da vida do personagem e levando-o a um cenário de exaustão. Chega a ser angustiante ver o sofrimento de Josef em busca das respostas que precisa, o enredo escrito em fragmentos torna essa sensação ainda mais forte no decorrer da leitura.
A crítica a arbitrariedade do Judiciário certamente é o ponto alto da obra, mas não é a única forma interpretativa possível, tendo em vista que o cenário claustrofóbico em que Josef está inserido pode ser comparado, por exemplo, àquele em que nós por vezes estamos travando guerras internas e buscando nosso próprio autoconhecimento. Ou ainda, podemos encarar o processo como situações em que somos inseridos sem saber o porquê e que tudo o que mais queremos é que elas cheguem ao fim.
O processo certamente não é das obras mais simples de serem lidas, a leitura chega a causar mal-estar, tendo em vista os inúmeros abusos perpetrados pelo Estado, a negativa de direitos valiosos, como o direito de defesa indigna o leitor, mas gera reflexões profundas. É uma obra valiosa e necessária, recomendo demais a leitura.