starsvhs 01/11/2024
Acredito que todos já tenham ouvido falar de "Frankenstein" pelo menos em algum momento da vida. Mas eu particularmente me surpreendi com o quanto a obra é diferente do que eu imaginava, diferente de um jeito bom.
A história é narrada por Victor Frankenstein, um homem que quando criança desenvolveu interesse pelas ciências naturais. No começo, era apenas algo que ele gostava muito de estudar, lendo vários livros de diferentes autores, até que ele iniciou seus estudos em uma faculdade e isso foi aos poucos se tornando uma obsessão, uma obsessão ao ponto de ter a ideia de criar um ser vivo.
Nesse momento acho interessante mencionar que, Mary Shelley não detalha como Victor chegou a esse ponto, ela escreve sobre o personagem indo ao cemitério pegar "material", trabalhando em seu laboratório e avançando em sua criação, mas não como uma espécie de tutorial para os leitores repetirem em casa (por motivos óbvios).
É incrível como as emoções de Victor em relação a sua criação mudam rapidamente assim que ele percebe o que fez. De um artista obcecado pela sua obra para total repugnância por ela. É como se em todo o tempo em que estava trabalhando no projeto ele estivesse cego por suas ambições e só ansiando por provar a si mesmo que ia conseguir, e então um baque de realidade o desperta e ele rapidamente fica horrorizado pelo que suas mãos fizeram. A criatura, que nem ao menos recebe um nome, percebe que é rejeitada pelo o que seria seu pai desde o momento em que despertou.
A narrativa vai se construindo com o propósito de deixar o leitor curioso, e até ansioso, junto com o Victor sobre o que vai acontecer em seguida. Não é um livro com o propósito de dar sustos, mas de dar um friozinho na barriga e um leve congelamento no sangue.
Os personagens ao redor do protagonista, mais especificamente Elizabeth e Henry, ainda que não tenham grande desenvolvimento se mostram únicos e conseguem de sua própria maneira cativar, mesmo que minimamente.
Mary Shelley com tão pouca idade conseguiu captar as emoções humanas de uma forma que me deixou extasiada. A criatura, que não seria considerada humana pelos homens, acima de tudo quer ser aceita e receber amor, mas também tem sentimentos de raiva e vingança. E afinal não é exatamente isso que é ser humano? Sentir um misto de emoções e desejar coisas que não podemos ter? Acredito que a única diferença é que, ela tinha mais liberdade pra cometer atos maquiavélicos, já que é muito improvável que fosse punida por seus atos.
É engraçado como ao longo dos séculos, a criatura ficou conhecida como "Frankenstein" pelo mundo todo, quando esse é o sobrenome de seu criador. É como se o tempo tivesse pregado uma peça, já que muitos que leram a história afirmam que o verdadeiro monstro é Victor, que graças a seu orgulho e egoísmo causa a ruína de todos que ama. Só posso imaginar o quão horrorizado ele ficaria se descobrisse que o nome de sua família é associado a o que ele mais abomina.
Agora falando especificamente da edição do livro, feita pela Darkside. Fora a introdução que achei maravilhosa como sempre, no final temos conteúdo extra com alguns contos que a autora escreveu, todos eles ficando ali nos tópicos de vida e as escolhas que fazemos ao longo dela. Essa parte só comprova como Mary era uma mulher inteligente e tinha um talento enorme pra escrita! A obra dela definitivamente merece toda a fama que tem e é um tanto mágico pensar em como mais de 200 anos depois, ela ainda continua viva de certa forma, por meio de todos nós que lemos suas palavras.