Tatá 12/03/2021
Um livro importante!
Quem pode se defender? O que é autodefesa e o que é a violência? "Numa sociedade racista, um negro que se defende é agente da violência". Poder se defender é privilégio de uma minoria dominante, contudo, os corpos sem direitos legais de se defender, permanecem criando mecanismos a partir de sua subjetividade, de táticas defensivas para sobrevivência, o que difere da tal "legítima defesa". A autora traz essa reflexão no livro, que é um livro denso, pesado, que além de trazer uma genealogia da defesa armada, dá uma visão panorâmica sobre os vários mecanismos de sobrevivência de grupos não dominantes; de como se dá o monopólio do uso da força sob vários âmbitos, por exemplo, quando ela cita o Estado como aquele que defende indivíduos que já são reconhecidos enquanto legítimos para se defender por si mesmos.
A experiência vivida de grupos que são aniquilados das mais diversas formas (como as mulheres, os/as judeus/as, as/os negras/os) traz a autodefesa enquanto capaz de assegurar condições para sobreviver. E aí, a autora relata diversas dessas experiências, indo da experiência judaica de autodefesa à defesa pessoal no movimento sufragista ou a autodefesa dos Panteras Negras.
Além disso, a autora traz a questão filosófica acerca das conceituações de autodefesa, discutindo contratualistas como Hobbes e Locke.
Inclui também a discussão acerca do estado racial e da racialização do vigilantismo (que difere de justiça), além da romantização da violência colonial (que até hoje se reflete) que acarreta na supremacia branca enquanto legitimada por esse estado, e aí ela narra as diversas situações de injustiça como a do adolescente negro Emmett Till que foi acusado injustamente de ter agredido uma mulher, dentre outros exemplos que são bem pesados e necessários de serem trazidos à tona.
Acho importante quando ela coloca o ponto de vista da autodefesa enquanto uma possibilidade contraofensiva do corpo militante, o que se torna um mecanismo de restauração da dignidade.
Dentre todas essas coisas, o exemplo de uma personagem do livro "Dirty Weekend" me marcou: não é que a personagem aprendeu a lutar, mas, que na verdade, desaprendeu a não lutar.
As questões do racismo, das relações de gênero etc, são bem postas neste livro e nos provoca uma reflexão fundamental.
Um livro importante, completo e atual.