raconteurr 08/06/2022
Não. Só não.
Eu não vou me estender nessa resenha, mas que fique claro que esse livro poderia ter sido muito mais legal.
Estou dando uma estrela pois a escrita é muito boa, e a meia estrela é pela ideia do worldbuilding e essa coisa de Júpiter e suas Luas (só a ideia inicial msm porque, na prática, é notável que o worldbuilding é péssimo e eu vou explicar o porquê).
!! A RESENHA A SEGUIR CONTÉM SPOILERS.
"Além da Fronteira" realmente lembra Jogos Vorazes. Porém, é como uma ida eterna à capital.
O começo do livro é igual Jogos Vorazes. IGUAL. Fiquei até encucada porque é quase as EXATAS mesmas cenas, uma total cópia. Mas, depois, as coisas mudam (e para pior, viu). E talvez isso seja uma coisa minha, mas cada vez que Beethoven ou George Orwell eram mencionados eu queria revirar os olhos.
Eu amo quando livros de fantasia tem suas próprias lendas, folclore, mitos e etc. É o que torna o worldbuilding original, algo novo, longe da nossa realidade. E, querendo ou não, é o que FUNDAMENTA a cultura de um povo. Aqui, o autor resolveu trazer ícones da nossa realidade para o planeta Júpiter, como se esses artistas tivessem sido... jupterianos.
Eu acho que foi uma escolha mal pensada. Ver referência em um livro é legal? É. Mas não quando é feita de forma sem nexo, preguiçosa. Fazendo isso, o autor praticamente excluiu toda parte cultural, em que desvendamos os costumes e crenças de um novo povo, que um worldbuilding apresenta. Para quem lê, pode notar: não há religião, comidas típicas, feriados típicos, danças, MÚSICAS típicas ou esportes típicos de Júpiter nem de qualquer Lua. Por que? Porque tudo é uma cópia mal entrelaçada do que temos na Terra.
Bellamy é um protagonista muito, muito (e já me perdoem a palavra) burro. Ele fala mais que a boca, vive preocupado com a família mas tenta fugir da casa mesmo contra todas as chances e sabendo que sua família e amigos poderiam ser mortos. Ele dá o nome de seus irmãos e seu antigo namorado para os ditadores Simplesmente escapa da boca dele. Repito: E S C A P A da boca dele.
O protagonista, mesmo tendo sido raptado e mantido como cativo, escravo, da família ditadora, vez ou outra simpatiza com personagens racistas (que vivem agindo como se ser um "lunar" fosse quase um bicho exótico de zoológico) e sente pena deles. São passagens que me deram um pouco de raiva, não vou mentir. E eu vou ser bem sincera: toda vez que o Bellamy pensava no quanto gostava do Braedon eu tinha que respirar fundo pra não surtar. Toda vez que ele pensava que "não sabia mais se queria voltar para casa" e endeusava esse povinho, eu juro que só faltava eu cair numa cova porque morta eu já estava.
Mas agora vamos aos fatos: é possível que isso aconteça? Que um escravo, um cativo, passe a se sentir confortável com a situação que está e simpatize com os agressores? Sim. Muito.
Parece que Bellamy estava sofrendo um tipo de Síndrome de Estocolmo. O ser humano é um animal que busca felicidade. Ele não quer sofrer para sempre, então se acomoda. Tenta aceitar seu destino, ver conforto onde não existe, e isso claramente acontece com Bellamy em algumas passagens. É algo muito complexo que eu queria muito que o autor tivesse deixado claro.
A situação apresentada é bem verossímil, na realidade, mas foi feita de forma que não consegui gostar de nenhum personagem... e me dói MUITO ver gente que leu e fez resenha desse livro falando "ah, mas o bellamy foi injusto com o alpheus" ou "alpheus é meu personagem favorito! todo mundo que lê vai gostar dele!". Já dizia Isabela Boscov: ora, tenha santa paciência!
Aí temos um grande problema também.
Quem lê esse livro tem que ter uma cabeça muito bem resolvida para não passar a enxergar a loucura do Alpheus e seu "passado triste" como justificativa coerente para toda merda que ele faz. Gente, acordem. Ele ESCRAVIZOU uma pessoa e fez JOGOS MENTAIS com ela. Isso não é nem discutível!!!!!!!!!!!! É um crime muito perto da nossa realidade, completamente repudiável. ACORDEM!
(Menção especial para aquela cena do final. O que o Alpheus fez foi tão???? Que redenção anticlimática, mal construída, abrupta. Sinceramente, é tosco. Tudo é tosco aqui.)
Falei que não ia me estender, mas acabei falando demais... enfim. Tá aí para quem quiser saber.