stellasays 19/12/2014
A edição que li foi publicada pela Anchor Books em 2012, é um pocket book em paperback. Apesar de ser pocket e não ter orelha, é bem resistente, porque ficou rodando pela minha bolsa esse tempo todo e o tamanho da fonte é bom. Não tenho muitos elogios a fazer sobre a capa, porque não comprei essa edição por esse motivo, mas porque era mais barata e eu não sabia se ia gostar do livro ou não.
Sobre o conteúdo, o livro vai contar a história de uma família composta de três pessoas: Jack Torrance (o pai), Wendy (a mãe) e Danny (o filho). O livro começa com Jack sendo entrevistado para trabalhar como zelador do Overlook Hotel durante o inverno. Nesta cena começamos a ser apresentados à personalidade do pai - uma pessoa irritadiça, rancorosa, oprimida e sarcástica. Admito que não fui nem um pouco com a cara do personagem. Isso não significa que não gostei de ler um livro com esse personagem. Porque quando o autor sabe trabalhar, ele faz com que o leitor se envolva com a história independente de sentir qualquer tipo de antipatia pelo personagem. Enfim, Jack está lá e eu comecei a achar que a história era sobre ele. Só que, ao longo do livro, fui chegando a conclusão que não era.
Veja bem, tudo no livro é muito bem amarradinho e as coisas não estão ali por acaso. Portanto, as referências literárias que King faz me fizeram pensar que o livro é sobre o Danny. Este personagem é um menino de aproximadamente 6 anos que tem uns poderes paranormais. Durante todo o livro não conseguimos compreender direito a extensão desses poderes, mas acredite, ele é O CARA. Danny tem um "amigo imaginário" chamado Tony (importante anotar que o nome do personagem é Daniel Anthony Torrance, ou seja, Tony é seu nome do meio) que tenta alertá-lo do perigo de ir para o Overlook. Só que o menino idolatra o pai e, em hipótese alguma, pensa em deixá-lo sozinho. Esse relacionamento dos dois é uma parte muito forte do livro, há inclusive um conflito interno da mãe por causa disso, pois em diversos momentos ela sente inveja da amizade deles e não sabe como lidar com esse sentimento. Mas voltando ao Danny, ele gosta muito de um livro chamado Where the Wild Things Are (Onde Vivem os Monstros) e, por favor, se alguém não pegou a relação entre o título e a história, vai ler o livro de novo! O Overlook é repleto de "monstros" e em vários momentos lembrei de uma frase da música Enter Sandman do Metallica - "Hush little baby don't say a word, and never mind that noise you heard. It's just the beasts under your bed, in your closet, in your head" - porque a família fica o tempo inteiro tentando se convencer de que nada do que está acontecendo no hotel é real, de que está tudo na cabeça deles. Só que, como leitora, fiquei refletindo sobre isso. O livro mostra um personagem que tem poderes mentais paranormais, está tudo na cabeça dele, certo? Mas não deixa de ser real, de influenciar o que está fora dele. Jack, principalmente, sente essa influencia em sua mente. E acredito que a mensagem do livro é a de que não devemos subestimar the beasts in our heads. Outro ponto em comum entre o livro do Sendak e o The Shining é o amadurecimento do menino. Ele vai para o hotel (a aventura) como um bebê curioso, que desobedece os pais na primeira oportunidade, e volta como um menino crescido, que entende a diferença entre o que é certo e errado, e que o mundo não é cor de rosa, por isso existem regras. Danny fica visivelmente traumatizado ao final da obra (impossível qualquer um passar pelo que ele passou e sair sem cicatrizes profundas), mas também evoluído. Ele compreende melhor seu papel no mundo e na história.
Outra referência infantil que vi neste livro foi Alice no País das Maravilhas. Vamos lá, Danny (Alice) vai para o Overlook (Toca do Coelho), chegando lá ele conhece Dick Hallorann (o Coelho, sempre atrasado), o cozinheiro do hotel que também tem poderes parecidos com os do menino, mas que não é nem de perto tão poderoso. Jack (Cheshire), apesar de ser o pai e tentar ajudar o garoto, não é nem um pouco confiável. Ele tem um lado negro muito presente e chega a assombrar o menino, mesmo este sentindo uma simpatia muito forte por ele. Wendy (Rainha de Copas) pensa ter algum controle da situação, mas na verdade ela não consegue impedir que nada aconteça, e não hesita em pegar uma faca pra "cortar cabeças", caso necessário. Já no Overlook, uma vez que o relógio bate meia-noite, vão todos parar num baile de máscaras a fantasia (País das Maravilhas) que apesar de deslumbrante, está repleto de perigos e fantasmas. Danny também recebe vários puzzles ao longo da história, que ele precisa resolver e tentar fazer sentido deles para salvar a si mesmo e a sua família. Em algumas cenas, os personagens são transportados para alucinações que não tem relação alguma com a história principal e fazem com que o leitor fique também com a sensação de estar perdido. Eles não conseguem sair de lá e a única forma é colocando tudo pelos ares (assim como acontece com Alice). Depois que saem de lá, tudo parece ter sido um pesadelo.
Pode ter sido muita viagem minha, mas precisava compartilhar isso.
Bem, resumindo, o livro é fantástico e todo mundo deveria ler. Gostei mais do livro que do filme. Só que lê-lo também serviu para atestar a qualidade do trabalho do Jack Nicholson, que interpretou o personagem do Torrance divinamente.
Recomendo! 5 estrelas!
site: http://custella.blogspot.com.br/2014/12/181214-shining-de-stephen-king.html