Xanda 08/01/2022
Conquistada por personagens que antes eu não dava nada
Eu amei tanto a dinâmica desse casal, não tenho nem onde enfiar a minha cara. Uma vibe mais sugar, contrato assinado e afins (rsrsrs). Enfim, se considerar o livro anterior, posso dizer que na minha opinião a série começou finalmente a melhorar. Esse foi tão bom quanto o anterior. Aqui, o romance segue aquela premissa de duas pessoas completamente opostas, que se sentem muito atraídas uma pela outra apesar de seus extremos. Cassandra é criativa, vivida, romântica, amorosa e sociável. Severin é o cara frio e sem afeto, viciado em seus negócios e que (como todo engenheiro chato) vive sua vida de forma mecânica e lógica. O livro já vale demais só pelas trocas que os dois tem juntos, dei muita risada ao ler eles redigindo o contrato sobre seu relacionamento.
O começo do livro estava bem forçado, com descrições genéricas e atiradas, mas depois evoluiu positivamente bastante. Falando dos principais individualmente e de forma resumida eu só posso dizer que apesar de não ser a minha favorita da série, o cenário é disparado Cassandra >>>>>>> Pandora. Ela fica muito de lado e esquecida nos livros anteriores da série, o que é uma pena, porque ela é uma personagem incrível que apesar de ser uma pessoa simples e de bom coração, consegue não se tornar um personagem desinteressante. O Severin também ficava obscuro nos livros anteriores, mas nesse pode-se conhecer muito mais dele e confirmar o quanto ele é icônico, autentico, distinto, maravilhoso. Dentro do tipinho dele, ele é o original e os outros são a imitação. Impossível ler esse livro e não se divertir com os desgostos e desarranjos dele, o desconforto geral que ele tem em interagir socialmente. Sou antissocial e posso compreende-lo.
Falo isso considerando ele como um personagem fictício, claro. Isso é um romance de época e é claro que o Severin tem os seus problemas, momentos como esquerdo macho feministo aleatórios, por exemplo, e só é legal se divertir com ele enquanto personagem. Imagina na vida real ter de lidar com um cara que tem um total de zero empatia por moradores de cortiço que serão despejados sem rumo. Inclusive, como a arquiteta que eu sou, achei uó essa coisa toda de dar nova moradia para as pessoas de forma caridosa sem se preocupar em momento nenhum com o fato de que elas tinham história no local antigo, com a distância onde seriam realocadas, etc (sim, estou focando em 1% do livro).
Dito isso, sim, claro que algumas coisas me incomodam bastante nos personagens principais e no relacionamento deles porque ninguém é perfeito, mas no geral, os atrativos de ambos falaram mais alto. As reclamações incluem um amor platônico à primeira vista bem mal justificado, desespero para casar, e a Cassandra constantemente reclamando do próprio corpo (péssimo exemplo) que só acontece (milhares de vezes) para que o Severin diga que se apaixonaria por ela independente da forma física dela uma única vez e seja aplaudido. Mas o carisma de ambos é avassalador e a conexão que eles têm é muito convincente, divertida e gostosa de acompanhar. Isso acabou tirando o peso para mim e tornando os pontos contra toleráveis.
O desenvolvimento do Severin é bem honesto e realista, pois no final do livro ele não é um cara mudado magicamente, ele é um cara em processo de mudança, até porque essa situação toda de ter zero empatia com as pessoas despejadas ocorre nos últimos capítulos do livro (rsrsrs). Acho bem mais interessante esse tipo de percurso do que algo mais exagerado, mas novamente, no campo da ficção. Acredito que foi bem feito, pois dá para de fato sentir que ele é um cara com potencial de mudança e que essa mudança o aflige e de fato é real, diferente de alguns outros casais de enredo semelhante em outros livros onde a mudança do cara é hipócrita, vaga e questionável. Também achei ótimo que o Severin tenha essa personalidade formada devido à sua infância difícil, mas que esse fato não tenha se estendido dramaticamente ou que justificasse o comportamento dele “dando licença” para ele continuar assim.
Por ser um romance de época, não foge também daquela escrita mais simples e direta, sem nada espetacular. No entanto, gosto bastante da narrativa da Lisa Kleypas, é viciante e fluída. A participação dos coadjuvantes é ótima e o Bazzle particularmente é creme de la creme desse livro, ele é a melhor parte que veio adicionar no que já estava ótimo. Amei tanto a questão da Cassandra fazer o Severin ler ficção e as diferentes visões deles sobre os livros que não me importaria se a autora tivesse feito mais citações a respeito. Achei muito legal que ela de fato pesquisou detalhes sobre as publicações dessas obras e o recebimento delas na sociedade da época.
As interações da família Ravenel nesse livro são tudo para mim, eles finalmente me conquistaram de vez como uma família unida. O relacionamento da Pandora e da Cassandra eu realmente não consigo comprar muito, é descrito que elas têm uma conexão e união de outro mundo, mas não é nunca demonstrado isso. Esse livro foi o que chegou mais perto disso. No entanto, as trocas com os outros membros da família foram ótimas e eu amei rever o West agora oficialmente pai.
Minha principal crítica para esse livro é que todos os problemas são resolvidos muito depressa e sem respiro, um atrás do outro, nos últimos 10% do livro, enquanto que certo plot chato e óbvio prolonga-se pela primeira metade toda, impedindo o casal principal de interagir. Poderia facilmente ser um livro mais longo para resolver as questões centrais de forma mais aprofundada e dispersa, compensando a primeira parte que teve tanto destaque, equilibrando os plots. E, aproveitando a adição de páginas, isso proporcionaria também podermos ver mais da dinâmica do casal depois de casados, com intriguinhas engraçadas e resolução de conflitos.
Considerando que o casal redige um contrato de casamento planejando detalhadamente todas as regras de sua relação, fiquei esperando pelo momento que essas regras seriam quebradas ou reconsideradas, e não recebi muito a esse respeito. Tenho essa regra de nunca dar mais do que 4 estrelas para romances de época porque a escrita é sempre mais pobrinha e existem machismos aqui e ali, mas se o livro tivesse sido assim já teria metido logo uma nota mais alta porque amei a dinâmica do casal. Queria demais poder ler mais momentos fofinhos de família feliz lendo na praia com o cachorrinho e até mesmo mais conflitos. De qualquer maneira, recomendo demais esse livro. Sem dúvidas foi um dos melhores dessa série.