spoiler visualizar@primaveraliteraria 22/05/2023
A expectativa é a mãe da frustração
Esse livro foi uma leitura bem? agridoce pra mim.
Essa resenha terá muitos spoilers e uma opinião extremamente pessoal.
Eu comecei essa trilogia justamente para chegar até o terceiro livro, então estava muito ansiosa. O que conheci de Damon no livro 2 me deu um gostinho de muita antecipação e felicidade. Principalmente porque descobri que a mocinha dele seria uma ?vilã? e seria a indiana que já havia aparecido no livro 2 também.
Qual foi a minha surpresa ao chegar no livro dele e me deparar com um Damon completamente diferente do que o livro 2 apresentou?
O Damon que considerou Alastor um grande amigo, cuidou de Luli e ainda encheu Maisie de autoestima simplesmente evaporou. No lugar dele apareceu um Damon taciturno, fechado, indiferente e muito pouco atrativo.
Levando em consideração o histórico da série, eu esperei que o livro fosse ser tão monogâmico quanto os outros dois? ledo engano.
Já adianto que fidelidade e monogamia são coisas extremamente importantes pra mim em romances monogâmicos, então me enojou muito tudo que tive de ler sobre Damon e outras mulheres até 60% do livro.
Logo na primeira noite de Farah na casa de Damon ela precisa o ouvir com as duas amigas coloridas dele. Depois, reiteradamente, enquanto ela chupa o dedo, se contorce em agonia porque quer voltar pra Índia e seu ?grande amor? (que era só manipulador e maldoso), ele entra e sai de mulheres o tempo inteiro. Inteiro. É impossível pra mim torcer por um casal monogâmico onde a personalidade do mocinho é só ficar com outras mulheres.
Farah come o pão que o diabo amassou, dia após dia, enquanto Damon fica com as loiras que moram com ele, mulheres no clube e sei lá mais quantas mulheres todas as noites que ele sai. Eu pensei em largar a leitura pelo menos umas 4x e cheguei a realmente ter pesadelo com esse livro por causa disso. Tudo porque o romance era inexistente. INEXISTENTE.
Até 60% do livro simplesmente não há romance. Há migalhas de um possível afeto entre os protagonistas, mas nem sei se dá pra chamar disso. O Damon é basicamente empático com Farah diante das dificuldades e caminhos perdidos que ela percorre, enquanto ela em contrapartida até o deseja mas também não entra muito em pauta, só fala uma coisa ou outra e é rechaçada.
Depois que Farah enfim desfaz todas as coisas que fez na vida de Damon e se casa, pensei que Damon sofreria a falta dela mas ele simplesmente volta pra vida libertina dele e tanto faz? Tipo, na mesma noite que chega na Grécia fica com suas amigas. Se Farah não tivesse ido atrás dele na Grécia no leilão, provavelmente eles nunca mais sequer se veriam.
E aí, depois de quase 600 páginas de pura agonia com o Damon pegando todas as mulheres que respiram e a Farah chupando dedo ? porque sequer o marido era hétero e o máximo que ela faz é uma ou outra ida numa ?casa? própria para relações sexuais, aí sim começa a aparecer algum pequeno sinal de romance, mas daí já passou 2/3 do livro e eu já estava de saco cheio disso.
Como falei, quase desisti da leitura muitas vezes. Quando a Farah é obrigada a ouvir o Damon com outras, quando ele as vê com outras na balada, quando ele acorda ao lado da irmã dela perto do casamento (isso realmente me matou, aqui eu quase taquei fogo no kindle, graças a Deus era mentira porque não aguentaria torcer por um casal onde o Damon simplesmente fica com a irmã da ?sua amada?), quando o Damon não vai atrás dela após o casamento. Inúmeras vezes eu pensei em deixar a curiosidade de lado e largar a leitura.
Pra mim o livro no aspecto romance só passa a ficar bom e existir de 65%~70% em diante. Antes disso esse quesito não é zero, é menos um milhão; totalmente negativo. O Damon basicamente fica com quem quer a hora que quer (basicamente todos os dias várias vezes ao dia) e a Farah? nada.
A partir dessa porcentagem do livro, digamos que o último 1/3 da leitura, é extremamente favorável. A Farah finalmente toma as rédeas da própria vida, se torna a ?vilã? que há tanta propaganda sobre (que pra mim na verdade é apenas uma anti-heroína em momentos específicos) e além de não ir atrás DE NOVO do Damon, ela finalmente se põe em primeiro lugar e ele quem vai atrás dela (mas nem tanto, nem 1% do que esperei depois de tanta humilhação e agonia que tive do anti romance).
Daí em diante, do menage em diante, parece que finalmente surge uma felicidade. Mesmo com a Farah sendo ardilosa, parece que o Damon só realmente começa a demonstrar alguma fidelidade e monogamia quando a Farah estraçalha ele. Irônico, né? Quando ela tentava de leve, mesmo que com outras causas em mente, ele ia lá ficar com outras. Aí, quando finalmente ela deixa ele despedaçado, ele para de ficar com mulheres e fica só com ela.
Acho que muito disso também tem a ver com a Juliana ter dado um golpe nele. Não fosse a traição de Juliana, acho que Damon não seria monogâmico até os 95% do livro. Acho péssimo que precisou haver uma traição seríssima para que Damon parasse de ficar com Juliana, o que me mostra muito pouco ou zero empenho dele em ser monogâmico.
O último 1/3 do livro é ótimo. Tem romance, redenção, juras de amor, casamento, transformação de toda a máfia que Damon comanda, até ajuda a orfanatos e gatinhos.
Mas, como disse, é tudo agridoce. A ultima parte do livro é perfeita, linda, não tem um defeito, mas valeu a pena esperar quase 600 páginas por isso? Valeu a pena criar um trauma em cima das saídas de Damon, já que antes de 65%~70% do livro, toda vez que ele saia era para ficar com mulheres? Sinceramente só acreditei que Damon era fiel quando eles conversaram sobre, já após 90%~95% do livro. Antes disso, toda vez que ele saia eu esperava ele voltar arranhado, mordido, sei lá mais o que que ele voltava e sempre se dava muita ênfase no estado físico dele pós relações, já que Farah mesmo sentindo ciúmes e queimações a respeito disso, demorou muito para falar sobre e, aposto que se ele falasse que ainda precisava ficar com outras, apesar dela ser uma ?vilã?, era capaz de tê-lo aceito e ficar esperando ele chegar enquanto não conseguia ficar com ninguém.
Então eu acho que minha expectativa foi minha ruína. Eu vi o aviso da autora sobre não ser um romance clichê, sobre Damon ser quebrado, sobre Farah ser vilã, enfim? só que não esperei que fosse haver tanta ênfase na vida sexual do Damon para montar esse personagem, já que no livro 2, onde ele é totalmente solteiro, ele parecia mais tranquilo que no próprio livro dele, onde algumas cenas dele com terceiras são descritivas (não longamente, mas há descrição dele no clube e dele com as duas loiras). Esperava que Farah, por ser entitulada vilã e má, fosse dar o troco em Damon, fosse ter uma vida sexual ativa também, deixá-lo com ciúmes, simplesmente ignora-lo e ir atrás de se satisfazer, mas o cara que ela dizia amar só a usou e o marido era gay, ou seja? o homem para ser vilão precisa pegar todas, mas a mulher para ser vilã precisa ser celibatária? E essa virada dela de ?vilã? também demora 2/3 pra ocorrer, o que eu não acho ruim, gostei do arco dela de autodescoberta e virada de chave, mas não queria que enquanto ela fosse dócil e frágil não ficasse com ninguém e ainda fosse rechaçada pelo Damon e após virar ?vilã? também não ficasse com ninguém e aí sim chamasse a atenção do Damon. Enfim, esperei mais nesse aspecto. Se contarmos, há mais cenas do Damon com outras ou voltando de ficar com outras ou citando ter estado com outras do que descritivas com a Farah, o que é triste e desanimador para mim.
Então, baseada nos meus gostos, que incluem torcer por um casal que realmente tem romance, ainda que meio torto, ainda que não escancarado, ainda que com personagens quebrados? eu me decepcionei bastante. Esperei que Damon fosse ficar doido pela Farah logo de cara, fosse evitar outras mulheres (já que ela não fica com homem algum) e, quando ela fosse embora, ele fosse sofrer e fosse atrás. Mas não recebi isso. Não recebi nada disso. Pelo contrário. Nem quando ela se casa ele sofre, só vai ficar com duas ao mesmo tempo. Esperei que ele fosse aproveitar que já havia tirado a virgindade dela e ficar com ela de novo ou ao menos desejar, mas no começo ela é só um fardo que ele parece sentir repulsa, isso sim.
Ao menos, o fim foi bom e a leitura valeu a pena pelo final. Mas confesso que não leria de novo pra passar por toda a agonia que passei. Acho que dá pra escrever vilões sem recorrer ao cara ficando com todas e a mocinha sem ninguém. Pelo menos ao fim mostra que o Damon era realmente quebrado, se odiava e se achava indigno da Farah, mas não gostei do modo de sexo desenfreado que ele viveu mais da metade do livro só pra reforçar essa personalidade quebrada, indiferente e autodestrutiva.
Em tempo, a Farah se mostra incomodada várias vezes com a vida sexual do Damon mas não o cobra nem faz nada a respeito, então essa análise da leitura é minha e não dela. Não acho que ela sofreu por ele ser assim, mesmo sofrendo um pouco. Mas eu, enquanto leitora, queria algo diferente e imaginei que teria algo diferente do que tive.
Então o livro que me motivou a ler a trilogia e que eu achei que amaria muito, foi o que menos gostei. Só o final salva, mas como disse não sei se valeu a pena passar por tudo para isso, afinal é realmente um final perfeito, redondo e lindo, Damon até fala ?eu te amo?, casa e pinta os olhos como disse que pintaria (no começo do livro antes de sair pra ficar com duas mulheres e largar a Farah sozinha? olha lá a mágoa hahahaah), mas? enfim.
E sim, sou toxicamente monogâmica e odeio ler romances monogâmicos sem monogamia e fidelidade, então é uma opinião muito pessoal a respeito do romance que li e esperei no livro.