Flores que rompem raízes

Flores que rompem raízes Odja Barros




Resenhas - Flores que rompem raízes


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Rafael Reis 14/03/2023

A trajetória e desdobramentos do coletivo Flor de Manacá
Este livro é fruto da pesquisa do doutorado da teóloga feminista Odja Barros que apresenta a trajetória do Grupo de mulheres da sua igreja (Igreja Batista do Pinheiro) chamado Flor de Manacá.

A autora inicia a obra explanando como as raízes patriarcais da interpretação bíblica cresceram e se tornaram corrente hegemônica no protestantismo, assim como as tentativas históricas de leituras feministas da Bíblia.

A pesquisa também apresenta as mesmas raízes patriarcais localizadas na tradição Batista, além dos princípios históricos da denominação sobre a liberdade de interpretação bíblica por meio da comunidade. É contada a história da herança brasileira batista, a partir da missão de norte-americanos até a constituição da Igreja Batista do Pinheiro, situada em Alagoas, com sua trajetória singular e as primeiras rupturas com a leitura patriarcal.

Com a iniciativa de Odja Barros, a comunidade aceita o convite para estudos de gênero e assim vai se desenvolvendo, ganhando novas adeptas a cada ano. O método utilizado é a Leitura Popular da Bíblia que descentraliza o ensino ausentando a figura do professor e constrói o saber a partir de um facilitador, provocando o grupo com perguntas pontuais.

Temas como a história de Hagar e a releitura do êxodo com o foco em Miriam são propostas discutidas no grupo de mulheres. A união desse coletivo vai além de um grupo de discussão, proporcionando uma revista sobre os assuntos discutidos, a formação de acampamentos, até a mudança de comportamento na vida de mulheres e famílias influenciadas pelo conteúdo do coletivo.

Os desdobramentos desse grupo influenciam na Igreja Batista do Pinheiro a formação de um grupo de homens, com a mesma proposta, chamado Ministério Barnabé, focando em repensar a masculinidade bíblica. Também a criação de conteúdo adaptado para as crianças da igreja e intersecções com o trabalho da pastoral da negritude. Culminando no polêmico debate sobre diversidade sexual e inclusão na comunidade cristã.

O conteúdo desse livro é muito rico. É bem interessante acompanhar a pesquisa da Odja sobre o grupo Flor de Manacá e todos os detalhes vividos no processo. Eu gostaria de ter acesso ao conteúdo das revistas criadas pelo coletivo, pois a pesquisa se propõe a focar no método e resultados atingidos pelo grupo. Com certeza é uma ótima experiência documentada que poderá ajudar outras iniciativas de propostas feministas em diversas comunidades.

Destaco o ponto de que o livro é uma tese de doutorado, então não é exatamente a forma de conteúdo que estamos acostumados em livros temáticos, principalmente sobre cristinaismo. Então alguns leitores podem ter dificuldade principalmente no início, que é necessária uma revisão de literatura e tem uma certa demora para chegar no assunto principal do livro.

Adorei ter conhecido o método da Leitura Popular e já tive a oportunidade de participar com a Odja de uma oficina. As perguntas são realmente provocativas e forçam as pessoas a pensarem em personagens feministas e pontos de vista que nunca foram questionados nas interpretações patriarcais.
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