Carlos Renan Rocha @carlosrenanfero 01/03/2016
Alice no país das maravilhas
Este é um livro que por ser tido por muitos como nonsense pode ter várias interpretações ou nenhuma, como a próprio gênero sugere.
Para mim, o sentido mais interessante que consegui ver foi aquele que aborda a loucura como peça central do texto.
O limite entre a sanidade e a loucura é tão tênue quanto o que separa a realidade e a fantasia. No conturbado século XIX, com o advento da segunda revolução industrial, que intensifica ainda mais a rotina insana da engendrada Inglaterra e acompanhado do avanço científico que elevou a um patamar quase que divino a razão, acresceu-se um valor inestimável ao tempo, fato muito bem trabalhado na metáfora que é a lebre de março (pitorescamente caracterizada pelo porte de um relógio), fadada a correr sempre atrás daquilo que carrega consigo com a exasperação de quem tem uma bomba amarrada ao corpo. E como em todo início de uma nova era, a revolução provocou um choque de paradigmas que respaldou em uma sociedade que preconizava os seus hábitos e ideologias piamente. Ao mesmo passo que se eram enaltecidos aqueles que louvavam a razão, era colocado a margem quem via a vida sob um ponto de vista mais lúdico.
Sob esse aspecto, Lewis Carroll (Charles Lutwidge Dodgson), desenvolveu personagens que se contrapõem em uma trama que, inicialmente, faz tanto sentido quanto a estressante rotina vigente de um mundo em transição. “Os personagens malucos” questionam, ainda que em uma postura tímida ou temerosa à hierarquia e os ditames sociais, o que é tido como razão pelos “personagens céticos”, que na verdade, nada mais é, para eles, do que um orgulho petulante de sua intransigência e abominação em relação às idéias divergentes do comum.
Contraditoriamente, é o próprio esforço e a paranóica aversão à loucura que fazem de certos personagens os verdadeiros malucos, a Rainha de Copas representa perfeitamente isso, dado o fato de que ela é caracterizada pela compulsão de imputar pena de morte por decapitação a qualquer um que fira seus interesses, pois preza esmeradamente para que tudo siga respeitosamente os seus planos esbravejando ordens a seus naipes( uma referência a manipulação dos mais fracos, ou socialmente desprestigiados), aludindo assim a tirania de governantes de ego inflado como Maria Antonieta.
Desta forma, dentre essas e outras singelas alusões, como a discussão dos animais que nadam com Alice e não conseguem chegar a um mínimo consenso em razão da empáfia com que cada um se porta, vemos que a obra pode ter mais sentido do que parece nas semelhanças com o mundo real.
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