Thaisa 10/03/2023
No café Funiculi Funicula, em um determinado assento ocupado por uma fantasma (que se levanta apenas uma vez ao dia), é possível viajar no tempo - seja para o passado ou para o futuro.
Muitas das diversas regras que precisam ser seguidas para que isso aconteça são apresentadas no primeiro livro dessa trilogia, "Antes Que o Café Esfrie", enquanto outras são mais reforçadas nesse segundo volume, mas as principais são duas: assim que o café é servido e o cliente viaja no tempo, ele precisa beber o café antes que ele esfrie para voltar ao presente (ou ocupará o lugar do fantasma) e não há absolutamente nada que ele possa fazer que mude os rumos do presente... O que sempre leva ao questionamento: "se eu não posso mudar certas coisas, qual o propósito de voltar ao passado?".
É assim que temos capítulos que abordam certas questões como falas que nunca foram ditas, despedidas que não ocorreram, histórias que não tiveram um ponto final.
A primeira obra mexeu muito comigo não apenas pelas lindas histórias que são narradas e as importantes mensagens que encontrei, mas por conta do momento em que eu estava vivendo (como costumo dizer, gostar ou não de um livro também é resultado de fatores externos), me levando aos prantos ao final de cada capítulo e me fazendo refletir sobre a vida e a morte, assim como tudo aquilo que realmente importa na nossa existência, focando em como aproveitamos o tempo que nos é dado na Terra.
O segundo volume adiciona mais desse mesmo conteúdo, porém, ao invés de termos diversas temáticas que envolvem elementos de sci-fi e destacam motivos diferentes para os personagens tomarem medidas tão drásticas, aqui todos os capítulos possuem um tema em comum: a relevância que a ausência do adeus tem na vida das pessoas e como isso pode gerar uma infelicidade magnânima vinda do luto e da culpa, onde múltiplos personagens sentem que não merecem a liberdade de seguir em frente.
Como no primeiro livro, em "Tales From the Cafe" cada capítulo destaca um determinado personagem, mas a história deles está entrelaçada. É interessante como, nessa sequência, a presença de protagonistas de "Antes Que o Café Esfrie" é evocada, o que coloca um ponto final em certas narrativas e entrega resoluções aos leitores. No entanto, é óbvio que isso dificulta que que essa obra seja apreciada individualmente.
Eu gosto bastante da escrita de Kawaguchi, simples e leve, explanando bem conceitos da ficção cientifica, além de trazer um peso melancólico para a trama que demonstra muita sensibilidade por parte do autor.
É claro que alguns capítulos me capturaram mais do que outros, mas como um todo, essa foi uma leitura muito válida e tocante que, apesar de não ter atendido as minhas expectativas, me fez querer devorar o terceiro livro dessa série - estou empolgada para conhecer novos personagens, revisitar outros protagonistas, verter muitas lágrimas e escancarar tantas emoções guardadas dentro de mim; sentimentos que vão sendo revirados ao longo das obras de Kawaguchi que sempre abordam, de uma maneira linda, o poder do amor e como ele transcende tanto o tempo quanto a morte.
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