Coisas de Mineira 27/04/2021
Os segredos que nos cercam é o mais novo livro de Kathryn Hughes, mesma autora de Tudo aquilo que eu não disse, seu primeiro livro e best-seller, ambos publicados no Brasil pela editora Astral Cultural.
Elizabeth é casada com Michael, e são os pais amorosos de um garotinho de 6 anos, Jake. Estão passando por um momento tenso, já que Jake luta há anos contra uma doença, e precisa de um transplante de rim para sobreviver. Infelizmente nenhum dos dois são compatíveis, e a solução seria encontrar algum parente que se prontificasse para a doação do rim.
Como se não bastasse, a mãe de Beth, Mary, acabou de falecer, e levou para o túmulo o nome do pai de Beth. Michael também não tinha nenhum outro parente – a não ser uma mãe alcoólatra, mas eles estavam decididos a buscar por uma chance para o filho – mesmo que para isso, tivessem de remexer em história há muito esquecidas.
“Era a esposa de Michael e a mãe de Jake. Aquelas eram suas identidades, e ela precisava voltar ao lugar ao qual pertencia, de volta ao lugar em que não havia segredos ou meias verdades para enlamear as águas de sua própria existência.”
Para salvar seu garotinho, Beth precisa descobrir quem é seu pai, e para isso se lança em uma busca contra o tempo, atrás de segredos que por mais de 40 anos a mãe encobertou. Ao remexer nas coisas da mãe, Beth acaba encontrando um recorte de jornal, e uma carta, que a leva diretamente ao passado.
É quando a história volta no tempo, e através da lente das pessoas que estavam descritas na reportagem, vamos construindo a história de Beth, desde as lembranças de Mary, e acontecimentos anteriores e posteriores à um acidente que deixou marcas profundas, responsável por desencontros e decisões que impactaram diretamente a vida de Beth e de todos envolvidos no acidente.
Os segredos que nos cercam foi meu primeiro contato com a autora, e posso afirmar que não será o último. Estava esperando um grande drama – história que trazem crianças acabam mexendo com quem é mãe. Mas a autora me entregou muito mais, e todo o suspense na busca por respostas não me deixou largar o livro enquanto não chegasse a última página.
“A terra tinha sido tirada do eixo, e de repente tudo era diferente. Assim como os cientistas procurariam um jeito de desviar o curso de um asteroide que se aproximasse, evitando, assim, uma colisão catastrófica com o Planeta Terra, essa carta alterava a trajetória de sua vida.”
O livro traz duas linhas temporais, com o passado entremeando o presente, até que permanece um bom tempo nos acontecimentos que culminaram no acidente. Como leitora voraz de livros de mistério, consegui decifrar algumas pistas, mas a autora me surpreendeu bastante. Você precisa estar atento a tudo, e mesmo um jogo de palavras podem levá-lo a caminhos errados – como eu gostei de encaixar essas peças!
Beth é uma mãe aguerrida, que amou muito Mary, e que agora devota todas as suas forças para cuidar do filho, e Michael é um marido incrível, que começa pequenininho, mas vai ter seus momentos decisivos.
E é no passado de Os Segredos que nos cercam que a história se desenrola por muito tempo, já que vamos acompanhar a vida de muitos personagens – até me perdi no início, mas todos eles fazem sentido e entregam papéis importantes para a trama. Os momentos anteriores ao acidente são daqueles de deixar com o coração na mão. A autora consegue nos envolver e até torcer por quase todos os personagens… 10 pessoas vão viajar em uma van, em busca de descontração e tranquilidade, e todas elas têm sua vida transformadas pelo acidente, levando a consequências que vão repercutir mesmo 40 anos depois.
“O amor verdadeiro só vem uma vez na vida, Jerry. Na verdade, algumas pessoas desafortunadas nem mesmo vivenciam isso.”
Por outro lado, esses personagens trazem outros tons a trama: fala-se de negligência materna, uso de drogas, luto, Bullying… são dramas familiares que vão se entrelaçando e construindo um clímax que terá repercussão por muitos anos. E a vida de Beth está entrelaçado nesses segredos.
Os segredos que nos cercam também traz uma reflexão sobre nossas decisões, que mesmo sendo questionáveis, podem salvar. E sobre recomeços… mesmo quando as tragédias parecem assustadoras, é possível se levantar e recomeçar.
“Tinha chegado tão perto de perder tudo o que lhe era mais caro, mas a sombra do seu passado tinha desaparecido. Era hora de viver na luz.”
Foi uma leitura linda, muito fluida e cheia de reviravoltas, que me prenderam até o final. E a Astral Cultural caprichou na capa, com flores entremeando o título, mas poderia ter caprichado na diagramação – uma fonte muito pequena, que acaba prejudicando a leitura. Mas, nada que vá impactar o desenrolar da estória. Enfim, recomendo se gosta de um drama com pitadas generosas de mistério!
Por: Maísa Carvalho
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