Rafael.Montoito 30/03/2021
Um ensaio sobre a solidão
"Guarda lunar" poderia ser dita uma HQ minimalista, já que seu autor usa pouquíssimas cores e texto para contar a história de um guarda cujos problemas a resolver resumem-se a trivialidades (como o desaparecimento de um cachorro ou a pane de um robô). Seu serviço torna-se mais e mais dispensável à medida que, pouco a pouco, a população que habitava a Lua resolve voltar para o planeta Terra.
.
Entediado, ele também pede transferência mas, recebendo uma negativa, vê-se obrigado a continuar vivendo ali, em meio ao quase nada: o ponto alto da sua rotina é ir a uma franquia de Donuts tomar um café.
.
A narrativa propicia, no leitor, uma experiência de solidão, o que se dá facilmente pelo "silêncio" da ausência de texto ou pelas paisagens desertas que as ilustrações mostram; também, possibilita-lhe pensar em metáforas para a pequenez do homem frente à grandiosidade do espaço e, ao mesmo tempo, a totalidade do ser (enquanto humano) em choque com suas angústias e insatisfações existenciais.
.
A história é relativamente curta (ótima para ser lida em uma hora ou pouco mais); porém, pela ausência de redenção, pode deixar o leitor, ao fim, um pouco sorumbático - embora, como um respiro de alívio, se perceba que o Guarda acaba achando algo que lhe dá alguma alegria, como sempre tentamos achar algo bom no meio do caos.