Newton Nitro 04/12/2014
Melhor mangá de fantasia brutal do mundo!
Terminei uma releitura completa do mangá Berserk, incluindo os volumes 36 a 37 que ainda não tinha lido antes. Não é por menos que a saga é um dos mangás mais bem sucedidos de todos os tempos, pelo menos dentro do segmento Seinen (mangás feitos para o público mais adulto). E nessa releitura, foquei mais no modo como seu autor, o mestre Kentaro Miura, constrói a narrativa, unindo, na melhor tradição japonesa dos mangás de fantasia, trama, criação de mundos e desenvolvimento de personagens.
Para quem ainda não conhece essa obra impressionante, Berserk é uma história de fantasia brutal e épica, focada na vida de um mercenário chamado Guts e sua jornada de vingança em um mundo de fantasia inspirado na Europa Medieval e nos Reinos Muçulmanos e Indianos da Idade Média.
A arte, que já é muito boa no começo, evolui muito ao longo da saga, assim como a narrativa. A saga é dividida em vários arcos narrativos, e segue uma estrutura de jornada de vingança, ou seja, a narrativa é dividida em dois pontos: o pré-trauma, que gera o desejo de vingança, e o pós-trauma, a jornada de vingança em si.
Na primeira parte se dá a caracterização de Guts e dos demais personagens coadjuvantes, além de se levantar todo o mistério de Griffith, a nêmesis do protagonista. A caracterização, as ligações emocionais, a história pessoal de Guts e o modo como ele consegue, pouco a pouco, superar os problemas de seu passado só aumentam o drama e o choque do leitor quando chega o momento do trauma principal da saga, um trauma marcado por uma espécie de segundo nascimento, tanto de Griffith quanto de Guts (onde ele assume completamente a figura do Berserk, o guerreiro furioso).
A saga lida com temas muito contemporâneos, como a natureza maleável do Bem e do Mal dentro de um universo nihilista, sujeito a ser manipulado pela vontade de quem conseguir mais poder, temas como isolamento, companheirismo, lealdade e traição, e do preço do poder, o preço que se paga para um indivíduo se sobrepor a massa da humanidade. Tudo isso embalado em combates emocionantes, muita criatividade na criação dos monstros e o principal, o trabalho de desenvolvimento de personagens.
Desenvolvimento de Personagem: Essa é a lição do sucesso de Berserk, ao meu ver. A saga prova (como o que há de melhor na literatura de fantasia) que dá sim para misturar fantasia épica e brutal com personagens bem desenvolvidos, com vida interior e uma personalidade capaz de quebrar os clichês que muitas vezes amordaçam narrativas fantásticas.
Esse lado humano dos personagens, a fragilidade emocional de Guts, ou a solidão inconcebível de Griffith, só para citar dois exemplos, podem servir de modelos para escritores de fantasia. Definir personagens or suas limitações, e não por seus poderes ou sua habilidades heróicas: acho que é esse o segredo do mestre Keitaro Miura.
Como desenvolver antagonistas: Uma estrutura bem legal de se usar, vindo do Mangá Shonen e Seinen, e que está presente na saga Berserk, é desenvolver os vilões através da revelação de seus passados, seja por meio de flashback ou por diálogos. A motivação dos antagonistas deixa o conflito mais interessante, até mesmo antagonistas que tem pouco tempo de cena (ou que acabam morrendo rapidamente nas mãos de Guts) recebem algum tipo de desenvolvimento.
Terror se cria vagarosamente: Mesmo com a narrativa escalando muito o grau de terror e do fantástico a cada arco, Kentaro Miura introduz o horror em cada segmento lentamente, em um crescendo, o que torna os climaxes compensadores.
Fica a recomendação de leitura.
Depois desse mangá, e de como foi bom essa leitura, parto para Blade of the Immortal, outra mangá seinen fodásico que parei no meio e que quero reler e chegar até o seu final.
E vamos ler quadrinho porque quadrinho é doidimais! :)