rafazaakar 22/01/2022
EU JÁ ODIAVA ARANHA, AGORA EU CONTRAI ARACNOFOBIA, TÃO FELIZES?!
“Dia zero” - Ezekiel Boone (Suma de Letras, 2021) #06
Sabe aquele sentimento agridoce? Então, é isso mesmo que senti ao terminar esse volume. Sem rodeios, sem enrolação, que nem diria RuPaul: Just between us, book lovers, ou seja, sem mentiras aqui.
Um terço do livro é desnecessário.
Nesse volume acompanhamos os acontecimentos finais de toda a trama com as, como começaram a serem chamadas nesse volume, aranhas-do-inferno. É uma corrida contra o tempo em descobrir uma forma de parar todas as aranhas antes que as Forças Armadas destruam todo o país com bombas atômicas e não sobre nada.
Mas o ponto é: parece que o autor enrolou tanto no segundo volume, que aqui ele se tocou que precisava juntar tudo e concluir, e teve muita coisa que não encaixou.
Entre elas: Como Melanie descobre sobre os pontos de aparecimentos das aranhas, primários e secundários, sendo que essa era uma informação que estava com o Padruig, na Escócia? Como ela descobriu de uma hora pra outra sobre as rainhas e do nada já estava com fotos e tudo? Porque as aranhas deixaram pessoas intocadas? DE ONDE VIERAM AS ARANHAS? Porque a rainha estava no Peru, sendo que no primeiro volume nós vimos elas surgirem pelo mundo todo? Em que momento as rainhas passaram a criar novas aranhas com dentes para atacar os humanos? E o principal: QUAL A HISTÓRIA DESSAS ARANHAS?
Eu sinto que ficou muita coisa largada no ar. Muitos pontos que deveriam se conectar e simplesmente foram explicados por cima, sabe? Aspectos que poderiam ter sido trabalhados no segundo volume, mas não foram! E até mesmo aqui, se alguns capítulos fossem mais enxugados, sem tantas descrições e causos bobos sem importância - como aquele núcleo do Bobby e do Manny. Ok, eles serviram pra alastrar as aranhas pelo país, e obrigar a Presidente a fazer o que fez, mas precisava de mais histórias deles?
Isso me deixou muito chateado, porque se Boone tivesse feito no livro todo o que fez nas últimas 80 páginas, ele seria impecável. Mas não. O começo é chato, lento e arrastado, até que toda a narrativa entra no ritmo - coisa que já deveria ter entrado no final do volume anterior - e fica INCRÍVEL.
Aquela rainha do final: DE ONDE CARALHOS AQUILO SAIU? ME EXPLICA, EZEKIEL, PELO AMOR DE DEUS!
Mas - e sempre tem um mas - é uma história que eu gostei muito. Muito mesmo, apresar de tudo. É original, é aterrorizante, é visceral, cheia de ação e possui com um conteúdo muito, muito bom. Tem deslizes, como qualquer outra, mas nossa, é MUITO ORIGINAL!
Entendo algumas tentativas do autor em levar a trama para algo mais politico, mais distópico e sair da pegada horror/científico que vemos no primeiro volume, mas o ponto é: quando falamos de um livro sobre aranhas assassinas, as aranhas precisam ser o foco, estar sempre aparentes e, no segundo livro e no começo desse, elas viram coadjuvantes.
Esse é o tipo de livro que daria uma série de sci-fi IMPECÁVEL. Um bom roteiro e certeza que o Globo de Ouro viria, viu?! Não tem nada a ver com aquelas histórias de filmes ruins de aranha de Hollywood com atores falidos e efeitos de Movie Maker. Essa trilogia daria uma serie nível Lovecraft Country, sabe?
Indico, apesar dos pesares. O primeiro volume ainda foi o melhor livro que li esse ano. Confiem.