spoiler visualizarAlecio Miari 24/08/2023
Faltou dar uma enxugada
Este foi um livro bem desafiador de se classificar, já que há momentos maravilhosos que eu ficava com a sensação de que estava diante de algo único – “Que história envolvente, cena fantástica, personagem cativante!” ... e em outros momentos eu não aguentava a lerdeza de descrições longuíssimas, backgrounds sem conexão com o que estava acontecendo e personagens que vinham e iam sem mais nem menos.
Comecemos com os seres que eram chamados para lutar e que, se morresem durante a batalha voltavam para o “umbral” de onde vieram. Os que sobrevivessem, tinham a felicidade de ter conseguido vencer, mas voltavam para este mesmo lugar de livre e espontânea vontade. Lá eles ficariam até aguardar o próximo chamado. Porém, 9 dos 10 sobrevivem à última batalha e resolvem não retornar abandonando este ciclo.
Muito FODA! Achei o máximo este conceito. Cada capítulo que passava trazendo outras narrativas e novos personagens me deixava mais ansioso para retornar aquele ponto do início... que nunca voltou! Que raiva!
Então de repente estamos acompanhando um assassino com poderes fodásticos que está indo matar o rei e acaba enfrentando uma legião de soldados que estão ali protegendo o monarca. Seria o assassino um daqueles antigos seres? Ou seria o rei? Não sei e não consegui relacionar nada. Mas a cena é muito dinâmica e focada e a leitura flui que é uma beleza!
Corta para um jovem recruta iniciando sua vida no exército e sendo transferido para um pelotão da frente que tem um líder muito foda. Mesmo estando na linha de frente ele sobrevive porque este grupo tem táticas inteligentes para se portar na batalha. Adoro estas questões de estratégias de lutas e a lógica usada pelos personagens, então foi um prato cheio para mim.
Corta para uma moça que não tem papas na língua, viajando com um grupo de marinheiros, para tentar se encontrar com uma mulher que poderia vir a ser sua mentora. Um dos marinheiros é muito bem construído e você rapidamente se afeiçoa ao seu jeito malandro de ser. A cena dela fazendo seus desenhos é particularmente muito chata. Ela faz um e o autor narra com detalhes. Ela faz outro e o autor narra com detalhes. Aí ela desenha um terceiro e o autor narra com detalhes. Só então depois destes 3 desenhos que ela vai fazer aquele que realmente importa... e é narrado com maiores detalhes ainda. Nossa, muito demorado!
Mas aí depois beeem lá na frente o líder daquele pelotão aparece como escravo e aparentemente todos aqueles soldados estão mortos. Como assim? Não tem explicação alguma, ele fica sozinho remoendo suas angústias passadas, mas não tem nada diretamente sendo contado sobre o que aconteceu. Ele nem era o personagem principal naquele capítulo, já que a gente estava vivenciando a primeira experiencia de guerra daquele recruta.
Ainda aparece um outro personagem que é um dos príncipes que ficam disputando batalhas para adquirir umas pedras envidraçadas que podem ser moldadas para fazer armaduras e espadas. Mas ele parece bem chatinho.
De qualquer maneira, o livro começa a alternar entre estes 3 personagens e aí eu meio que coloquei na cabeça que eles são então os principais. Mas ficava me martelando a ausência de maiores detalhes daqueles seres iniciais, o marinheiro que sumiu, os soldados que morreram... e para completar a merda toda, vinham uns capítulos nada a ver com personagens que só participavam ali em uma história curta sem coerência nem relação com nada.
Quando eu estava querendo desistir do livro, vem a grande reviravolta onde Kaladin (o líder-escravo) começa a participar do grupo que transporta pontes no lombo para providenciar passagem ao exército. Esta cena é sensacional! Lembrei muito de John Snow chegando à muralha pela primeira vez. Que ideia original!
Então o livro engrena e começa a ficar mais e mais interessante, já que acompanhamos o desenvolvimento do líder de exército/ escravo/ líder de transporte de pontes (estilo a evolução do Gladiador) e incontáveis flashbacks contando sua vida e justificando como ele manja tanto de medicina e cuidados com os feridos na pós batalha.
Quando faltavam umas 100 páginas eu comecei a sentir que não ía fechar a história. Eu já sabia que haviam dois livros, mas tinha a esperança de fechar o clímax daquele livro e então continuar com o background no próximo. Pensemos em Harry Potter, Rangers Apprentice, Shadow and Bone, Divergente, A Roda do Tempo, Trilogia A Guerra do Velho... todos têm 2, 3, 10 livros. Mas as histórias fecham em cada um deles.
As páginas acabando e nada de chegar próximo de conclusões, eu sabia que as histórias destes 3 personagens se cruzariam, mas estava muito lento. Eles não íam conseguir se encontrar. Cada qual estava começando a adentrar o mundo do outro, era nítido que seus caminhos se cruzariam. Mas não ia dar tempo. Dava para perceber isso porque o autor é muito detalhista nas descrições, ele não ía acelerar e vomitar cenas só para costurar tais encontros, eu já sabia que tinha outro tijolão Ways of Kings part II...
E sim, ele deixa TUDO no ar. Ele tentou ao máximo deixar num cliffhanger para seduzir os leitores para a próxima peça. O problema é que comigo ele forçou demais a barra e eu fiquei muito mais puto do que ansioso pelo próximo.
Na contra-capa do livro há diversas obras do autor que, ao que me parece estão interligadas, e fiquei com aquele medo de a história não acabar na Part II. Fui lá eu procurar na internet e eis que este é o primeiro livro de 10 planejados para contar a série do Stormlight Archive.
Sinceramente, paro por aqui. Não vou me aventurar em outros livros dele sem ter certeza que há um fechamento. Ainda mais que, não raro, vemos autores não conseguindo contar o que querem naquela quantidade planejada, então não duvido nada que estes 10 se tornem 12, 14, 15 livros....