Léo Araújo 16/02/2024
Castigo do tamanho de um braço para uma falta do tamanho de um dedo
ANTES DE FALAR DO LIVRO
É importante falar sobre o autor, Jakob Wassermann: romancista conhecido no Brasil apenas pela trilogia Wasserman e Kaspar Hauser, pois sua obra principal ainda não foi traduzida para o português. O estilo literário é repleto de bela capacidade descritiva, com parágrafos longos, cheios de diálogos internos e fluxos de consciências "siderais" misturados com os diálogos do personagem, sem a possibilidade de respiros e arejamentos. Se aprofunda nos dilemas éticos e morais da sociedade, criando romances psicológicos densos, o que lhe rendeu uma equiparação a Dostoievski.
O LIVRO
Esse foi o último trabalho de Wassermann, a trilogia "O Processo Maurizius", "Etzel Andergast" e "A terceira existência de Joseph Kerkoven". E nesse primeiro volume, ele aborda a questão da justiça e a busca pela verdade. Seus personagens são apresentados aos poucos, como pratos a serem degustados. No decorrer do texto vai clareando do que são feitos e o que os sustentam ética e moralmente. É um romance de dupla cronologia, passado e presente, em que inicia-se no presente e logo em seguida o passado vem à tona. A partir daí, uma constância entre essas cronologias se alternam, até se encontrarem na narrativa.
Etzel Andergast é o filho do Barão Andersgast, procurador-geral, que esteve evolvido em um processo polêmico que o alçou a tal posição, O Processo Maurizius. E tudo começa com Etzel, ao ter contato com o tal nome Maurizius, que como um comichão, o conduz a uma busca quase visceral pela verdade em torno do nome e do pai. O processo torna-se o baluarte do romance e do destino de todos os personagens.
CONCLUSÃO
Wassermann, de modo muito profundo e esclarecido, deixa-nos em estado constante de reflexão, em que:
- A ambição, futuramente, cobrará o seu preço;
- A liberdade é um conceito abstrato;
- Os relacionamentos pessoais existem baseado na construção da convivência e não em laços de sangue;
- A justiça é multifacetada;
- A ética e a moral (ou a falta delas) dirigem a vida das pessoas;
- O amor (ou a falta dele) determinará o ruma da vida de cada um;
- As perspectivas determinam o conceito de certo e errado;
- A consciência lhe submeterá a um castigo de culpa, não importa quanto tempo passe.
O livro não é um passatempo; é um estatuto da vida em sociedade, apresentando as consequências de cada escolha feita.
E o título dessa resenha é a eloquente frase do livro: "Castigo do tamanho de um braço para uma falta do tamanho de um dedo".