Vania.Cristina 12/05/2024
Quebra-cabeças de mistério, clássico, irônico e inovador
Aqui temos um dos maiores clássicos de Ágatha, considerado por muitos o melhor livro dela, com certeza um dos melhores. Eu arrisco dizer que quem gosta da literatura de mistério contemporânea vai gostar desse aqui, porque ele é um pouco mais ousado que a maioria dos livros da autora. Impressionante saber que foi publicado em 1926, e trouxe inovações para o gênero policial.
O narrador da história é o médico James Sheppard que mora com sua irmã, Caroline, na pequena cidade rural de King's Paddock. Ambos são solteiros maduros e Caroline é conhecida por ser sempre muito bem informada da vida de todos, mesmo sem sair de casa. E isso numa cidade que já é descrita por Sheppard como sendo fofoqueira.
Quando a história começa, uma viúva, de uma das famílias de maior prestígio, acabara de se suicidar. Logo nas primeiras páginas, outra morte misteriosa acontece, agora o assassinato de Roger Ackroyd, de outra família abastada local. A sobrinha de Ackroyd pede a ajuda do misterioso vizinho de Sheppard, que acabara de se mudar para a cidade. Descobrimos que trata-se do detetive aposentado Hercule Poirot.
Se na obra de Agatha Christie, Poirot é seu Sherlock Holmes, seu Watson costuma ser o Capitão Hastings. Mas nessa história Hastings está casado e morando na Argentina. Poirot chega a citá-lo algumas vezes, e manifesta tristeza pela distância do parceiro de tantas aventuras. Durante a leitura, percebemos que Poirot vê que Sheppard tem potencial de se tornar um parceiro substituto.
Esse livro de mistério é um quebra-cabeça clássico com vários suspeitos, todos com suas motivações. Cada um deles tem sua história paralela construída ao longo da narrativa. Aos poucos, as peças vão se encaixando até a revelação final. Não percebi nenhuma ponta solta, o trabalho de Ágatha é matemático.
Há uma cena, em especial, que mostra como a autora estava ousada e cheia de ironia. Trata-se do capítulo onde dois amigos aleatórios entram em cena para jogar Mahjong com Sheppard e Caroline. O diálogo que se segue narra os acontecimentos recentes na cidade e, ao mesmo tempo, os lances da partida jogada.
É praticamente um parênteses na narrativa, engraçado, instigante, irrelevante e banal. Mesmo assim, parece milimetricamente encaixado, um respiro antes do desencadeamento das descobertas que serão reveladas ao leitor.