Resenhas - O sussurro das estrelas

Carol 13/06/2021

Impressões da Carol
Livro: O sussurro das estrelas {2018}
Autor: Naguib Mahfuz {Egito, 1911-2006}
Tradução: Pedro Martins Criado
Editora: Carambaia
112p.

Sempre fui fascinada pelo Egito. Na casa de meus avós maternos, onde passei grande parte da infância, meu hobby era atravessar as tardes lendo as entradas da Enciclopedia Conhecer relacionadas aos faraós, às pirâmides, aos deuses metade humanos, metade animais.

Da infância também, minha edição velhinha de 'As mil e uma noites', na tradução de Antoine Galland, que li e reli, até saber de cor as histórias de Ali Baba, Aladim, Simbad, O Corcunda Recalcitrante, Sherazade e tantas outras.

Porém, o fascínio ficou nesse Egito remoto, em que mito e realidade estão borrados, pouco sei sobre o Egito moderno e Naguib Mahfuz é o primeiro autor egípcio que leio.

Naguib Mahfuz recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1988 e, até hoje, é o único autor de língua árabe a ser premiado. Muito popular em seu país, teve uma carreira longa, publicando vários romances, contos e peças de teatro. Em 1994, por ter defendido a liberdade de expressão e criticado a fátua contra Salman Rushdie, sofreu, ele mesmo, um atentado à faca, ao qual sobreviveu, não sem sequelas.

"O sussurro das estrelas" é uma obra póstuma, coletânea com dezoito pequenas narrativas cujo tema central é a 'hara', termo que pode ser traduzido por viela ou bairro. Narrativas sobre as pessoas que habitam ou transitam por esse espaço. Que se reconhecem na cidade. Que se dissolvem nela. E se reencontram. A 'hara' vive, a própria cidade vive.

Não sei árabe (quem me dera), mas lendo cada um dos contos, me senti enredada pelo ritmo melódico da escrita de Mahfuz, na língua de chegada. De uma beleza onírica. Todo um vocabulário exótico de shaykh alhara, zawiya, Azrael e ifrites.

Um Cairo moderno, que carrega o fascínio das cidades milenares e fora do tempo. Gostei demais dessa leitura e pretendo ler outras obras de Naguib Mahfuz, principalmente "A Trilogia do Cairo".

Eloisa 16/06/2021

Ah, as ilusões da expectativa?
Costumo me interessar por quase todos os lançamentos da Editora Carambaia e fiquei muito intrigada por essa obra quando do seu lançamento. Temos aqui uma coleção de contos inéditos do único autor egípcio a ganhar o prêmio Nobel de literatura, Naguib Mahfuz. Sendo, ainda, ambientado no cotidiano da capital Cairo e com esse belo título (convenhamos, que nome lindo para um livro!), eu logo fui fisgada.

Os contos são ambientados em uma viela/bairro no Cairo. São 18 narrativas tendo dois personagens fixos: o xeique da viela e o imã da zawiya. Eles de alguma forma acabam controlando, influenciando ou fazendo parte das corriqueiras histórias dos demais membros da localidade.

Porém, não posso dizer que gostei dos contos nem da escrita de Mahfuz. Econômico em excesso e com finais um tanto quanto que abertos que acabaram me deixando com a sensação de que todos estavam escritos pela metade, uma incompletude desinteressante no caso.

Acho que essa não deve ser a melhor porta de entrada para o autor e, por isso, quero ainda ler alguma outra obra de Mahfuz (alguma indicação por onde começar?), pois, acredito que deve ser um escritor que vale à pena a insistência.

No mais, eu não poderia deixar de comentar sobre o espetáculo editorial e gráfico da Carambaia. O livro, apesar de pequeno, é belíssimo! Uma obra de arte para se ter na estante e ficará por aqui para uma releitura futura e apreciação estética também.

Alberto 26/12/2021

Contos curtos que transportam para um oriente bem diferente do das Mil e Uma Noites
Contos curtos que transportam para uma atmosfera de um oriente real, pobre e sofredor, e permitem um vislumbre dos modos de existir e pensar da sua gente. A edição da Carambaia é uma pequena joia, livro tão bom de olhar quanto de ler. Indicado para amantes de contos, interessados pelo mundo islâmico ou em geral por conhecer outras culturas. Não indicado para o leitor médio de bestsellers.

"Aonde você vai Sam?" 17/02/2022

Os sussurros de Mahfuz
Contos curtos, episódios da história de uma viela protagonizados por aqueles habitantes que transcenderam a alienação da tradição e da religião, pois sem rebelião não há história.

Tentaram silenciar o autor, mas era tarde demais, sua voz já estava além das facas e do ódio dos homens bons, Mahfuz seguiu sussurrando até morrer de velhice e sua voz imortal segue ecoando cada vez mais alto, cada vez mais longe!

fabio.ribas.7 26/12/2022

O sussurro das estrelas
Há um certo estranhamento com a finalização abrupta de certos textos. Contudo, o personagem principal é a viela. Ali, desfilam os diversos personagens com sua visão árabe e muçulmana da vida. São poderes que se interagem: o xeique, o imã, o inspetor etc. As pessoas comuns estão ali mergulhadas nesse mundo difícil de fofocas, traições, abandonos e forças da natureza que os surpreendem. Como imagino a viela? Uma rua, um cortiço aberto, mas, mesmo diante das fificuldades sociais, um lugar em que o mistério da vida ajuda a desafogar a ansiedade de se viver.

Rafa 30/12/2023

Mergulhei no livro com muita curiosidade por ser meu primeiro contato com a literatura egipcia, mas infelizmente não foi pra mim. Normalmente não sou muito fã de contos, mas nunca não gostei tanto de algo, as historias eram até interessantes mas eram tão curtas que TODAS pareceram inacabadas e extremamente rasas, literalmente parecem rascunhos de ideias para futuros romances, infelizmente não gostei para nada.

driesvansteen 23/06/2024

Estrelas de areia
De respeito. A edição y o conteúdo têm cheiro, som, cores. Vozes y medos. Gênios y honras. Obcecado pela figura dos ifrites: gênios que vivem no subterrâneo y nas ruínas? Pqp. Quero mais literatura árabe com o Hamza. Mas romance, por favor.