Márcia 14/10/2023
Arendt, uma mulher extraordinária
Eu estava precisando de uma leitura mais densa. E sempre quis conhecer um pouco mais a respeito de Hannah Arendt, filósofa que viveu uma vida extraordinária, cuja arma contra o mal sempre foi seu intelecto. Judia de nascimento, família de classe média da Prússia oriental, livros foram seus companheiros desde a adolescência. Nunca foge à regra: alguém que faz a diferença no mundo está sempre rodeado de livros.
Teve uma vida amorosa também surpreendente. Viveu uma paixão com Martin Heidegger, simplesmente o criador da filosofia continental moderna, que acabou sendo seu orientador em Marbug, Alemanha, cidade escolhida por ela porque lá trabalhava esse brilhante professor. Hannah nunca quis ser a mulher atenciosa e abnegada que faz parte de um arquétipo cultural, que dispõe um papel para toda mulher desempenhar e todo homem explorar. Não, seu lugar era o lugar da filosofia, sua paixão era por entender a ordem das coisas.
Arendt enfrentou os horrores do holocausto. Foi exilada na França, onde conheceu seu marido da vida toda, Heinrich, também intelectual, esteve em Camp Gurs, uma espécie de internato para mulheres durante a guerra. De lá conseguiu sair, andou a pé até o destino próximo, até conseguir um visto para os Estados Unidos, onde termina sua vida. Foi autora de várias obras e a mais polêmica delas (até hoje) gira em torno de sua tese sobre o nazista Adolf Eichmann, que, vivendo em Buenos Aires tranquilamente com mulher e filhos, foi levado a um tribunal em Jerusalém. Hannah foi designada para o julgamento pela revista The New Yoker. Então, ela descreve Eichmann, um dos arquitetos do holocausto, COMO UM BUROCRATA SEM IMAGINAÇÃO QUE APENAS CUMPRIA O SEU DEVER. Para entender a polêmica, é preciso ler a obra que escreveu a respeito: Eichmann em Jerusalém. Ainda não li.
Amei a trajetória dela: o fato de ter tido a sorte de encontrar homens iguais a ela, intelectualmente; o fato de ter vivido cercada de escritores, poetas, artistas e outros intelectuais. Com frequência, eles se reuniam em suas casas para comer, beber e conversar. Essa foi minha intenção com a casa de Conquista, mas não sei onde errei: se eu ou se faltaram os intelectuais que não encontrei.