Lígia 28/06/2020
Nunca me identifiquei tanto com um livro
Eu comecei a ler esse livro devido a um dos desafios de uma maratona que estou participando o qual tenho que ler um livro de uma escritora do mesmo nome que o meu. Escolhi A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga, pois era um dos vários livros da autora que tive em minha casa quando criança, mas que nunca cheguei a ler. Imaginem a minha surpresa, anos depois, de que esse livro se tornou facilmente um dos meus preferidos. E, ao conhecer a protagonista Raquel e suas três vontades - ser grande, ser homem e ser escritora - entendi porquê essa leitura pôde ser muito mais aproveitada agora do que teria sido se eu tivesse lido quando criança.
Escrito em 1976, Lygia (muito íntima como podem ver) retrata em a bolsa amarela uma realidade que não está tão distante da nossa. É fácil entender e se identificar com Raquel quando ela convive com uma família que a reprime todos os dias, afinal por que as crianças deveriam ter o direito de imaginar e de criar? Por que ela poderia criar um história sobre um galo chamado Rei? Além disso, quais as vantagens de ser uma menina em um mundo que só os meninos podem fazer as coisas? é aí que seus desejos são expressos como uma necessidade de liberdade por toda a repressão sofrida em casa.
Ao ganhar uma bolsa amarela, Raquel vai colocando nela todas as suas vontades que vão crescendo ou diminuindo de acordo a como ela vai se sentindo. É somente ao conhecer Afonso - o galo que se chamava Rei -, Terrível, a Guarda-Chuva, o Alfinete bebê, e a família que mora numa Casa de Consertos que Raquel vai conseguindo se encaixar e descobre que nem tudo é como ela imagina, e que no mundo há bastante espaço para nos aceitarmos.
Embora um livro infantil, o que pode fazer com que nem todo mundo goste, a história de Raquel e sua bolsa amarela traz diversas lições ainda muito importantes na atualidade e, mais do que tudo, representa algo que muitas vezes esquecemos - ou nos fizeram esquecer - sermos nós mesmos.