Anica 30/11/2010
Fight Club (Chuck Palahniuk)
Qual a graça de ler Fight Club (de Chuck Palahniuk) depois de já ter assistido ao filme de 1999 com Brad Pitt e Edward Norton? Eu digo: toda graça do mundo. Sim, é óbvio que o enredo é basicamente o mesmo, mas há algo na experiência de leitura que torna Fight Club no papel algo diferente do que se vê nas telas. Aquelas frases que todo mundo tanto adora repetir estão lá, mas o livro permite um aprofundamento que o cinema infelizmente ainda não pode oferecer.
O que falarei sobre isso se baseia em um spoiler, então se você ainda não assistiu ou leu Fight Club, faça um favor para você mesmo e vá atrás disso agora. MESMO. AGORA. Vale muito a pena. Ok, agora que quem não teve contato com o clube já saiu daqui, vamos aos comentários sobre a diferença principal entre um e outro.
Acredito que no livro a questão da personalidade é muito mais forte e melhor trabalhada. O narrador descobre um pouco após a metade do livro que ele é Tyler Durden, e o que se vê a seguir é uma luta entre o que ele acredita ser, e o que outras pessoas pensam que ele é. A maior parte das pessoas com que ele tem contato o reconhecem como Tyler, sobrando apenas as pessoas no trabalho o reconhecendo como ele se vê (o narrador). Agora se pensarmos que uma das frases mais repetidas são “Você não é o seu emprego”, então pouco resta dessa personalidade. Chegamos ao ponto em que Tyler diz que o próprio narrador pode ser uma alucinação, e não o contrário.
É genial. Somando a isso, é claro, todos os grandes ótimos momentos que já foram vistos nas telas – foi bom reconhecer frases que eu já sabia de cor, como “as coisas que você possui um dia acabam possuindo você”. Mas não se enganem, o ponto alto do livro não é a questão Tyler Durden x Narrador, acredite. Ele conseguiu colocar em uma narrativa alucinada toda a angústia da entrada na vida adulta, daquele momento que o jovem se vê pego pela “roda viva”.
A narrativa segue como se fosse “falada”, cheia de marcas de oralidade como a repetição ou mesmo interrupção. Assuntos se mesclam, são entrecortados com devaneios do narrador. Soa realmente como uma conversa, e com uma história tão boa de ler que o resultado é um livro daqueles para se devorar – mesmo sabendo o que vem por aí. Se você gostou do filme, saiba que vale a pena procurar pelo livro sim. Saiu pela editora Nova Alexandria e parece estar esgotado, mas nada que uma garimpada em sebos não possa resolver, certo?