Igorclxt 23/04/2024
O luto é uma forma cruel de aprendizado.
Minha avó, que me embalou nos braços e era a única pessoa que se importava verdadeiramente comigo, faleceu no começo desse mês. Apesar do quadro clínico dela, após um AVC em fevereiro, nunca apresentar algum progresso minimamente relevante ou indicar um fiozinho que seja de esperança, a gente ainda tenta seguir em frente e pensar positivo, acreditar até em milagres. Exatamente às 1h da madrugada resolvi, inquieto, sair para caminhar pelas ruas desertas do meu bairro. Pela manhã, a notícia veio da minha mãe, chorosa: "O hospital ligou. Sua avó faleceu às 01:30." Agi com dureza, como se já esperasse, porque no fundo eu já esperava mesmo, mas no fundo eu também buscava não pensar tanto como uma forma de evitar ou atrasar o inevitável. Enquanto esperávamos no hospital para resolver as burocracias da coisa, senti (como tantas vezes antes) que aquela minha "calma" era apenas momentânea, que em algum momento a barreira iria se romper e de mim sairia uma avalanche de raiva, negação, culpa e, principalmente, dor.
Comprei esse e outro livro enquanto estava no hospital esperando pelo atestado de óbito. Comprei várias coisas: algumas úteis e outras inúteis. Queria ocupar minha cabeça, assim como o venho fazendo ao máximo desde então. Escrevo este desabafo em uma madrugada vazia e solitária na casa onde a presença da minha avó está em cada cantinho, em cada mínimo detalhe, mesmo com sua ausência. A cama dela está vazia. A cômoda, com as roupas cuidadosamente dobradas, ainda está no mesmo lugar. O potinho que ela sempre enchia de doces e vinha me dar, agora está vazio. Para sempre. E eu não sei mais onde me encontro nessa nova realidade. Há pouco mais de uma semana, após uma crise, comecei um tratamento: agora estou sempre medicado, sempre dormindo também. Os remédios me impedem de chorar e sofrer muito, me impedem de agonizar, mas não fazem desaparecer a pavorosa sensação de que uma parte de mim foi arrancada para sempre.
Sinto-me incompleto.
No mais, este livro é, de fato, um relato muito potente sobre o luto, sobre a dor da perda e sobre a dificuldade em saber lidar com ela. Me identifiquei em muitos trechos e agradeço por ter conhecido a escrita da Chimamanda, que agora me convida a conhecer mais e mais de sua obra.
"Como é possível o mundo seguir adiante, inspirar e expirar de modo idêntico, enquanto dentro da minha alma tudo se desintegrou de forma permanente?"