Lais.Lagreca 26/07/2021
Uma ótima conversa sobre a dor da separação
Li este livro de uma vez só. Foi num domingo. Eu me sentei à mesa e fiquei conversando com a Chimamanda, ouvindo e refletindo sobre amor, dor, perda, impotência, medo, fé, esperança... bom, pelo menos foi assim que me senti. Na verdade, essa sensação de uma boa conversa é a que sempre tenho ao ler os livros desta importante escritora: Chimamanda Ngozi Adichie.
Chimamanda escreveu estas reflexões durante seu processo de luto. Ela tinha acabado de perder o seu pai, no ano passado, 2020 (e, neste ano, perdeu sua mãe). Chimamanda, tendo consciência do quanto sua dor era também a de muitos, nos presenteia com suas belas palavras.
Ao mesmo tempo que ela reconhece que a dor da morte, da separação, é uma dor universal, de certa forma, uma vez que dela, da morte, não há escapatória, através das palavras de Chimamanda eu consegui sentir e refletir também sobre as particularidades dessa dor. Em um espaço de tempo tão curto, quantas palavras de consolo eu escrevi, digitei, falei? Recentemente? Muitas. E, enquanto eu tentava encontrar meios de expressar minha solidariedade, meios de tentar amenizar a dor do outro, eu sabia – e sobre isso refleti bastante durante a leitura deste pequeno livro ¬– que para a pessoa que perdeu alguém tão próximo, tão amado, minhas palavras eram tão pouco. Mas era o que me restava.
Sinopse:
Escrito por uma das maiores vozes da literatura contemporânea, esse livro é um relato não apenas sobre a morte de um pai amado, mas também sobre a memória e a esperança que permanecem com aqueles que ficam.
Escrito após a morte do pai de Chimamanda Ngozi Adichie em junho de 2020, durante a pandemia de covid-19 que mantinha distante a família Adichie, Notas sobre o luto é um poderoso relato sobre a imensurável dor da perda e as lembranças e resiliência trazidas por ela.
Consciente de ser uma entre milhões de pessoas sofrendo naquele momento, a autora se debruça não só sobre as dimensões familiares e culturais do luto, mas também sobre a solidão e a raiva inerentes a ele. Com uma linguagem precisa e detalhes devastadores em cada capítulo, Chimamanda junta a própria experiência com a morte de seu pai às lembranças da vida de um homem forte e honrado, sobrevivente da Guerra de Biafra, professor de longa carreira, marido leal e pai exemplar.
Em poucas páginas, Notas sobre o luto é um livro imprescindível, que nos conecta com o mundo atual e investiga uma das experiências mais universais do ser humano.
“Era tão próxima do meu pai que sabia sem querer saber, sem saber inteiramente o que sabia. Uma coisa dessas, temida durante tanto tempo, finalmente chega, e na avalanche de emoções vem também um alívio amargo e insuportável. Esse alívio se torna uma forma de agressão, e traz consigo pensamentos estranhamente insistentes. Inimigos, atenção: o pior aconteceu. Meu pai se foi. Minha loucura agora vai se revelar.”