Soliguetti 26/08/2024Nostalgia desgastada e perda de fôlegoQuando "Jogador Número Um" explodiu nas prateleiras, trouxe consigo uma tempestade de nostalgia e uma reverência quase religiosa à cultura pop dos anos 80. Era como se Ernest Cline tivesse decodificado o sonho febril de todos os geeks, transformando-o em uma jornada eletrizante. Agora, em "Jogador Número Dois", Cline retorna ao mesmo universo, mas infelizmente, a mágica não se repete com a mesma intensidade.
A premissa da busca pela Alma da Sereia prometia ser tão emocionante quanto as aventuras de Parzival no primeiro livro. No entanto, as tarefas que deveriam ser o ápice da nostalgia acabaram por se descolar do espírito da série. Sim, os elementos dos anos 80 estão lá, mas se aventurar por cenários de filmes ou por um planeta inteiro dedicado a Prince, por mais icônico que o artista seja, soa mais como uma tarefa enfadonha do que uma missão envolvente. Em vez de se sentir como uma celebração da era dourada da cultura pop, essas buscas parecem esticar uma fórmula que já havia atingido seu ápice.
As descrições de batalhas, que deveriam ser o coração pulsante da ação, também deixam a desejar. Entraves que começam com promessas épicas se desenrolam rápido demais e terminam de maneira repentina, quase inexplicável, deixando o leitor com uma sensação de anticlimax. A batalha no planeta de Prince é um exemplo claro disso - um cenário que poderia ter sido um espetáculo visual e narrativo termina sem o impacto que deveria ter.
No entanto, nem tudo está perdido. Cline ainda tem boas ideias, e o final do livro oferece uma reviravolta que, de fato, surpreende e recupera parte da energia perdida ao longo da narrativa. É um momento que lembra ao leitor por que eles se apaixonaram pela história em primeiro lugar, mas é uma pena que este brilho só apareça tão tarde na trama.
"Jogador Número Dois" é, sem dúvida, um bom livro, especialmente para aqueles que adoraram "Jogador Número Um" e querem mais do mesmo universo. Mas, com a perda de força nas missões e batalhas, ele simplesmente não tem o mesmo impacto que o seu antecessor. Em vez de uma segunda dose de adrenalina, o que temos é uma sequência que, embora agradável, deixa a impressão de que a nostalgia já não é mais o bastante.