Vania.Cristina 18/03/2024
Os cinco C's da parentalidade
Aqui a norte americana Sharon Saline fala diretamente a pais e professores de crianças e adolescentes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
Ela trabalha de duas formas: trazendo depoimentos que mostram a perspectiva de quem vive com o diagnóstico, especialmente crianças e adolescentes; e apresentando um método, desenvolvido por ela, para que os adultos aprendam a lidar com seus filhos. Esse método ela chama de "Cinco C's da Parentalidade", que são: Auto controle, Compaixão, Colaboração, Consistência e Celebração.
No livro, Saline explica cada um deles e ensina exercícios práticos para alcançá-los. Eu acredito que eles servem, na verdade, não apenas para quem lida com o TDAH, mas são práticas interessantes para usar na educação de filhos.
Algumas questões se destacaram mais pra mim. O Auto Controle a que a autora se refere trata-se do autocontrole do adulto, só depois deste vem o da criança.
A Compaixão é um exercício de empatia, e serve pra vida, mas é fundamental para lidar com quem tem TDAH.
A Colaboração, tem a ver com o respeito mútuo, com encontrar juntos soluções para os problemas.
A Consistência reconhece que a autoridade e a decisão é do adulto, desde que seja coerente. Na educação das crianças, não se deve aplicar penalidades que não se pode cobrar. Os limites consistentes são ferramentas amorosas e didáticas. Deve-se reconhecer os limites e os sentimentos dos filhos, mas não ceder, a não ser que seja numa situação de excessão. Sim, é possível fazer excessões mas os motivos devem ser colocados com clareza e não são permanentes. Excessão clara e objetiva não é inconsistência.
E o mais legal de todos, a Celebração. Esta é baseada em destacar as conquistas, o esforço, reforçar a auto estima.
Tá, mas o que é esse tal TDAH? Estima-se que 5% da população mundial de menores de 18 anos, tenha esse "transtorno". Sim, coloquei entre aspas porque a própria autora recomenda o cuidado com os termos clínicos, pois eles atrapalham.
São três os tipos de pessoas que têm TDAH: o desatento, o hiperativo e o combinado. O diagnóstico do hiperativo é o mais fácil, perceptível, o desatento é mais comum, no entanto mais difícil de perceber.
Meu interesse no assunto surgiu quando comecei a perceber que meu filho (que detalhe, já tem 26 anos), tem características marcantes do tipo desatento. Sempre achei que eram traços da sua personalidade, mas hoje entendo que é mais que isso e que eu também posso ter o mesmo diagnóstico, porque é genético.
A pessoa com TDAH tem amadurecimento atrasado do lobo frontal (cortex pré-frontal). Esse atraso compromete as funções executivas do cérebro que correspondem a realização de objetivos, afetando diretamente a atenção, o comando de comportamentos e emoções, a memória de trabalho e a comunicação entre regiões do cérebro.
Dois neurotransmissores são afetados:
- a dopamina, responsável pelo prazer, pela recompensa, pela motivação e pela satisfação;
- a norepinefrina, responsável pelo estado de alerta, sono e energia.
Pois bem, a memória funciona da seguinte forma no cérebro: primeiro a informação é processada, por um tempo, na memória de trabalho. Depois ela é absorvida na memória de curto prazo, mais adiante ela se consolida na memória de longo prazo.
Quem tem TDAH tem dificuldade com a etapa do processo da memória de trabalho. Meu filho, por exemplo, sempre foi muito inteligente e se deu bem na escola, mas esquecia frequentemente de fazer as tarefas e trabalhos. Depois tinha que correr atrás do prejuízo.
Quem tem TDAH cresce sentindo vergonha porque é diferente, se sente esquisito, e é especialmente vulnerável à negatividade. É mais difícil para ele que as memórias boas se instalem permanentemente nas estruturas neurais do cérebro. Se a criança ouve mais mensagens negativas, elas se fixam primeiro na memória.
O cérebro de quem tem TDAH precisa que as coisas sejam interessantes. Incentivos ajudam a treinar para internalizar que o esforço leva a algo satisfatório. A rotina fomenta a persistência, o esforço e a resiliência. Quem tem TDAH é mais sensível a gatilhos, tem forte senso de justiça e injustiça, reações explosivas, compulsões, sensação de fracasso, e pode sofrer de ansiedade e depressão.
Bom, aprendi tudo isso com esse livro. Mesmo assim queria mais do que ele entregou, talvez porque as experiências narradas sejam norte-americanas e senti um certo distanciamento. Talvez porque não aborda os caminhos para diagnósticos tardios. Mas recomendo para quem tiver interesse no assunto. Encontrei o audiobook no Skeelo.