Thaisa 25/04/2023
A difícil realidade de ser um autor em uma trama kafkaesca
G.H. Fretwell é um escritor pouco conhecido que, após lançar um novo livro, é chamado por seu agente para fazer uma tour por livrarias em outra cidade; assim, ele deixa seu filho e sua esposa (que aparentemente não se importa tanto com o marido) e pega um trem de sua cidadezinha até uma grande capital. Porém, assim que ele chega no local, muitas coisas começam a dar errado: sua mala é roubada, seu editor desaparece, sua tour é misteriosamente estendida, há vários conflitos de agenda entre os hotéis onde ele deveria ficar, o lançamento de sua nova obra não é enaltecido, ninguém aparece para ter seus livros autografados nas livrarias em que Fretwell está, uma das funcionárias de um sebo no qual ele estava e com quem criou uma rápida conexão é encontrada morta e ele se torna o principal suspeito para a polícia, já que o assassinato dessa moça acontece exatamente da mesma forma que é descrito na nova obra do protagonista... E as situações nas quais ele é colocado tornam-se uma grande bola de neve que apenas aumenta conforme a trama avança.
Essa graphic novel nos apresenta um enredo totalmente kafkaesco, me lembrando, principalmente, de "O Processo", de Franz Kafka, sendo que tanto um protagonista quanto o outro acabam ficando presos em situações absurdas e sem explicação - tudo isso na intenção de colocá-los como figurantes e trazer, para o centro da trama, discussões sobre a sociedade.
Em "The Book Tour", também encontramos a questão de expectativa versus realidade da vida de um artista, vendo o contraste enorme existente entre o glamour e a fama de ser um escritor com a vida real dele, em que nada é fácil e tudo está ruindo. É interessante como o protagonista também possui certa ingenuidade e, mesmo nos piores momentos, escolhe acreditar no melhor das pessoas, na sua capacidade de ter sucesso e na importância de sua arte.
Confesso que as ilustrações não me conquistaram: os traços são bem simples e rasos, e por possuir um esquema de cores básico, entre preto e branco, muitas vezes os cenários e os personagens se fundem, resultando em quadros mais borrados.
O que eu realmente gostei foi a trama de Watson: é fácil se perder nas páginas enquanto acompanhamos as desgraças que Fretwell enfrenta - e o final, totalmente enigmático, é instigante, seguindo os passos de Kafka e exigindo que o leitor tire suas próprias conclusões sobre o que está ocorrendo nessa cidade e quem está por trás dos assassinatos que continuarão acontecendo...
É verdade que a arte de Andi não funcionou pra mim, mas eu tive uma boa experiência ao ler essa história que é, ao mesmo tempo, tão maluca e tão real.
Mais resenhas no instagram literário @livre_em_livros e no canal do Youtube "Livre em Livros"!