Thiago275 27/09/2021
Trabalhoso, mas vale a pena!
É inegável que J.R.R. Tolkien criou todo um universo mitológico, com sólidas bases, histórias e regras. Ele escreveu sobre uma infinidade de aspectos desse mundo. Apesar disso, pouco publicou em vida. Em grande parte, devido ao seu perfeccionismo e à dificuldade de encontrar a forma "definitiva" dos acontecimentos. E é isso que mostra A História da Terra-Média, livro que reúne escritos tardios (indo do fim dos anos 1950 até a década de 1970) que tratam de muitos aspectos do Legendarium de Tolkien, desde o macro até o micro.
O livro é dividido em três partes. A primeira, sem dúvida a mais árida, podemos chamar de matemática. Trabalhosa de se ler, pois traz muitos esboços sobre as diferentes formas de contagem do tempo para elfos, homens, maiar e valar, a taxa de crescimento da população élfica durante o início dos tempos, e, é claro, todos os cálculos que Tolkien fazia e refazia quando decidia mudar algum elemento que interferisse na história.
A segunda parte, que podemos chamar de filosófica, trata sobre temas bastante interessantes, embora não sejam exatamente fáceis de encarar: beleza e bondade, conhecimento e memória, destino e livre-arbítrio, reencarnação élfica, morte. Mas aqui também temos verdadeiras pérolas, como a descrição de vários personagens.
A terceira parte, provavelmente a mais fácil de ler, traz assuntos mais "triviais", como habitações na Terra-Média, descrições da terra e dos animais de Númenor, os rios de Gondor, etc.
Nunca é demais lembrar que Tolkien vivia em função de idiomas (reais ou fictícios) e, por isso, grande parte dos textos trazidos aqui começa com notas etimológicas. Ao explicar a origem de palavras élficas, o autor aproveita para escrever ensaios sobre variados aspectos de seu mundo.
Já li muitos livros de Tolkien. Mas A Natureza da Terra-Média foi o livro mais difícil dele que já li. Por vezes, é dificil acompanhar o raciocínio do autor, que "pensava escrevendo", redigindo, rabiscando, interrompendo, fazendo notas para si próprio. No entanto, se por um lado, isso mostra a forma errática com que Tolkien construiu seu mundo, por outro, demonstra sua imaginação sem fim. E eu acabei me tornando ainda mais fã desse gênio.