Pavozzo 21/03/2024
Não apenas crianças, mas fundamental para todos.
Não creio estar equivocado quando afirmo que a maioria dos pais e professores gostaria que seus filhos lessem mais. Dentre eles, no entanto, suspeito que sejam em número consideravelmente menor aqueles que fazem algo de concreto com vistas a esse objetivo. Para estes felizardos, o livro "Crianças que lêem" do psicólogo americano Daniel T. Willingham pode ser o guia que faltava para ajudar-lhes a convencer os pequenos (e por que também não os adultos?) de que a leitura é uma fonte inesgotável de saberes e diversão.
O autor é claro em seu objetivo: os pais querem que seus filhos leiam, mas as crianças e adolescentes não parecem muito interessados nisso. Como então fazê-los gostar de ler? Ainda mais em um mundo onde abundam as opções de entretenimento através das mídias digitais?
Willingham faz na introdução uma espécie de compêndio sobre a "ciência da leitura", a qual afirma ser sustentada por três pilares: decodificação, compreensão e motivação. Em seguida, estrutura sua obra em três partes que correspondem às diferentes fases da vida do pequeno leitor: Do nascimento à pré-escola, Do jardim-de-infância à segunda série, e Da terceira série em diante, fornecendo orientações sobre como desenvolver adequadamente aqueles três pilares em cada um destes períodos.
O princípio aqui é fomentar o interesse genuíno pela leitura através da associação do ato de ler em si com experiências positivas, tais como brincadeiras, momentos em família e atividades que estimulem a curiosidade natural das crianças. O autor tem estilo bastante pedagógico, conciso, mas sem ser superficial. São muitas as referências à pesquisas da área e as sugestões de leitura no final oferecem uma oportunidade de aprofundamento o qual o autor quis evitar em favor da objetividade.
Gostei particularmente de um tópico específico o qual eu próprio venho tentando sanar dificuldades: muitas vezes a falta de compreensão de um livro não decorre de problemas na decodificação do texto (como transformar letras em sons, prosódia, etc), mas da falta de conhecimentos necessários para a apreciação adequada. Os autores omitem freqüentemente informações as quais esperam que o leitor as conheça, além das referências histórico-geográficas, artísticas, literárias, religiosas, científicas e outras as quais fazem uso constante. Para ler e entendem bem é necessário cultura. Como obtê-la? Principalmente se você já for crescido e acha que precisa recuperar o tempo perdido? Há orientações nesse sentido aqui.
Meu único senão é o que me pareceu ser um certo otimismo inocente do autor em relação às mídias digitais. Willingham é um descrente dos prejuízos cognitivos que as telas têm provocado nos cérebros humanos, mas seu contraponto a essa afirmação não deixa de ter certa razão.
Acho que este livro pode ainda ser útil mesmo se você, como eu, não estiver interessado em desenvolver o gosto pela leitura em um filho ou aluno - mas em si mesmo - especialmente se acredita possuir deficiências oriundas da falta de um ambiente estimulante à leitura quando estava em sua mais tenra idade.
Agora, se me derem licença, preciso ir ler um livro.