Lívia.Beatrice 18/01/2023
Escancarando a bolha
De um lado, temos a simples e humilde Maju, membro do invisível “exército branco” formado pelas babás, e funcionárias cuja principal função social é auxiliar as pessoas de classe média e alta. Do outro lado, há Fernanda, uma produtora de sucesso no mundo das telinhas, que contrata Maju para dar conta dos cuidados e criação de sua filha, Cora.
O livro começa pelo ápice: Maju sequestra Cora. Fernanda e seu marido Cacá demoram a perceber o que está ocorrendo com a filha, pois confiam totalmente na babá. A narrativa segue criando curiosidade e dinamismo através de capítulos intercalados entre pontos de vistas, e entre passado e presente.
Cada uma delas enxerga sua própria verdade, e são movidas por suas próprias razões. Com temas das ficções contemporâneas, como maternidade e seus conflitos, a vida profissional na sociedade patriarcal, estupro, relações homossexuais, casamentos fracassados e a exploração na relação de trabalhos.
Suíte Tóquio é uma obra de muitas camadas, e com olhares femininos bem diferentes. O título tem a ver com o quarto de empregada montado por Fernanda. Ela, movida pela culpa da “escravidão” que a babá é submetida, e ao mesmo tempo não abrindo mão de realizar todos os seus objetivos, decora o minúsculo quarto de Maju, e o apelida com este nome.
"Eu só pari a Cora. Pra ser mãe, a pessoa tem que adotar o filho depois que ele nasce."
Se eu torci para alguém? Não. Posso dizer que a Fernanda me incomodou muito mais, por sua lista de privilégios, ou por ser mais verdadeira com o que sente. E a verdade incomoda. A Maju é mais doce, mais sofrida, e age movida por amor. Mas, qual é o limite do amor? Até onde ela ama Cora? Ambas são difíceis de não julgar, e ao mesmo tempo não são difíceis de compreender.
Sim, existe o pai nessa história, e sua função é cuidar de cactos. CACTOS. Sim, ele cria cactos.
Giovana Madalosso mexe na ferida da nossa sociedade, de todos os lados, e eu torço para que todos que estão lendo esta resenha conheçam este livro.