hanny.saraiva 28/03/2023Pra mim, a autora não cria uma narrativa divertida como algumas pessoas dizem, o livro traz tópicos pesados. Frases do tipo: "E por isso, para me sentir menos escravocrata, batizei o cômodo de Suíte Tóquio"; "Pobre é tão bom em ressuscitar as coisas"; "Não conseguem ligar a babá com a pessoa. Devem pensar que depois do expediente a patroa esvazia a gente que nem boia e guarda dentro do armário" só nos mostram com a classe média emergente continua querendo ser o senhor e a senhora do ocidente, em uma cultura onde se explora de forma cínica e comum. Aqui não temos uma solução para nada, apenas uma grande lente angular para essas relações construídas por uma burguesia que se diz descolada e cult, mas apenas repete os mesmos padrões colonialistas.
Me lembra muito "Que horas ela volta". Detestei a Fernanda e acho que a Maju poderia ser melhor explorada, mas o livro te prende e a escrita flui. A ironia e o vocabulário construído pode trazer leveza sim, mas não chega a ser cômico. Gostei da forma como o final foi construído, um gancho com um quê cinematográfico. Mas essa leitura me trouxe sentimentos dúbios, fiquei um pouco incomodada. Sinto que tenho lido uma leva de livros que repetem padrões sociais, não que a literatura tenha que trazer saídas, mas acho que sinto falta mesmo é de ter outros olhares sobre esses mesmos tópicos.
Citações preferidas:
– Um desejo que toda mãe já sentiu, de que o filho desapareça. Morra por alguns segundos.
– Memória é um filho que já nasce morto. E se decompõe.
– Deus é o amor com barba comprida, por fim disse.
– Ela tinha deixado a filha no cantinho da vida, e lá no cantinho da vida tinha eu.
– Quem larga um sapato não tem mais esperança de nada.
– O corpo mostrando quem é que manda. Quem já passou fome e frio sabe o poder do corpo.