Rute.Lessa 14/02/2024
De volta à adolescência
Em meio a uma série de desafios pessoais, incluindo uma mãe doente (que acredito que foi uma tentativa contra a própria vida), um término de namoro e conflitos no trabalho, a protagonista (que não tem nome) desta narrativa enfrenta uma montanha-russa emocional. Sua dificuldade em lidar com essas situações é agravada pela falta de comunicação com o pai (que é um espécime de homem que acha que a mulher tem que cuidar e zelar por tudo), a distância da melhor amiga (por ficar com o ex) e atritos com o chefe (que se mostra nada profissional).
Em sua jornada para encontrar equilíbrio, ela recorre a diferentes estratégias: faz listas para organizar seus pensamentos, o que faz da narrativa inteira como se fosse um registro em diário, passa noites preparando doces (principalmente quindim e suspiro) e se dedica ao estudo do francês por meio de um aplicativo. No entanto, é nas memórias das receitas da avó, na sua nova amizade com a Rata, nos versos de Fernando Pessoa e nas reflexões de Clarice Lispector que ela encontra consolo. Ao perceber que suas angústias são compartilhadas por outros ao longo da história, ela encontra uma sensação de pertencimento que pode transformar seus problemas em desafios mais gerenciáveis.
Nenhum dos personagens têm nome e são todos "animalescos", o que me fez lembrar de "Meninas Malvadas", cada animal/pessoa possui sua característica própria e é claro que me encantei muito pela Rata, a rata de biblioteca rs. A forma que ela se refere à ex amiga e o ex namorado, o casal CiLano, é muito divertido.
O livro é espetacular porque consegue mesclar muito da cultura canônica e contemporânea, seja em literatura ou culura propriamente dita. Recheado de intertextos e metalinguagens, conhecemos mais de Álvaro de Campos, Clarice Lispector, Caio Fernando de Abreu ou Caio F, Grabriel Garcia Márquez ou Gabo, Vinicius de Moraes ou Vinha, Graciliano Ramos ou Graça. Conhecemos um pouco mais dos clássicos de Mário "Hilário" de Assise a linguagem difícil de Gracilíano Ramos. Ainda temos uma palinha de Amora, de Emicida e músicas de Angèle sua cantora favorita em francês.
Um livro que mostra muito a necessidade de se sentir incluída, no ambiente escolar e familiar. De saber organizar-se, de saber sobre si. Me encontrei em muito momentos ali, principalmente os que ela se sente acolhida lendo poemas. A forma em como ela resinifica a questão da comida e refaz as receitas da avó.
Uma leitura leve, gostosa, acolhedora.