Oz 26/11/2017
O livro abre com o menino Cotter e seus colegas pulando as catracas do estádio Polo Grounds para assistir a uma das partidas mais icônicas da história do baseball. O ano é 1951 e os Giants ganham dos Dodgers em uma rebatida milagrosa de Bobby Thompson que vai na arquibancada, no que ficou conhecido como “a rebatida ouvida em todo o mundo”, alcunha recebida pela jogada não só pelo teor inesperado do lance, mas também porque a partida fora marcada por ser a primeira televisionada para todo o país. Em outro canto do estádio, temos a presença de figuras ilustres, como Edgar Hoover (primeiro diretor do FBI), Jackie Gleason (comediante) e Frank Sinatra (sem necessidade de maiores apresentações), cada um mais ou menos preocupados com a partida. No entanto, estamos interessados no “submundo”, certo? Em personagens que vivem à margem da sociedade. Por isso, o ponto de interesse aqui é no pobre garoto Cotter que, inesperadamente, consegue pegar a bola da rebatida de Thompson e sai correndo pelas ruas de Nova York com seu prêmio.
Essa bola será um dos elos entre diferentes personagens que vão aparecendo no livro, dentre os quais o protagonista, Nick Shay, um representante de uma empresa de resíduos e que teve um passado peculiar, para dizer o mínimo. E é justamente com um vai-e-vem de passado e futuro que vamos conhecendo a vida dos múltiplos personagens do universo criado por Don Delillo. Em seu mosaico, conhecemos uma freira de disciplina rígida, um grafiteiro de trens que vai se tornando referência entre seus colegas, um assassino das estradas do Texas, um professor de origem italiana e sua mulher artista, um pequeno prodígio do xadrez, e assim por diante. Personagens bem característicos e peculiares que compõem o universo da narrativa.
Sobre a forma do texto, além da contínua variação no tempo e dos capítulos dedicados a uma diversidade muito grande de personagens, temos a utilização de um narrador em terceira pessoa (na maior parte) onisciente que vai narrando e intercalando quadros do que se passa na cena ou mesmo em um certo fluxo de consciência dos personagens. Por exemplo, temos uma sequência de parágrafos que vai alternando a narração do que o personagem está fazendo no ambiente, uma ou duas coisas que ele está pensando e sentindo, e depois, ainda, algo que se passa em outro lugar, com outro personagem, no mesmo momento. Apesar de ser um modo interessante de contar a história, em alguns instantes isso fica um pouco confuso, para não dizer cansativo, ainda mais levando em consideração as 732 páginas do livro.
No que diz respeito aos temas que perpassam por toda a narrativa, destaca-se o constante medo das guerras (guerra da Coréia, Vietnã e a crise dos misseis em Cuba), a paz, o acúmulo de lixo da sociedade contemporânea, o passar do tempo e a desilusão que vem junto com ele e, claro, o universo e a cultura do submundo dos personagens em seus mundos marginais.
O mosaico de Delillo resulta em um bom livro, não mais e não menos do que isso. Personagens interessantes são apresentados e questões relevantes são levantadas, mas a forma e o tamanho deixam a leitura um pouco cansativa, principalmente no meio, como se comêssemos uma pizza em que a borda se destacasse mais do que o recheio. Talvez seja uma boa recomendação de livro para se ler aos poucos, sem pressa.
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