Queria Estar Lendo 29/08/2022
Resenha: Eu Beijei Shara Wheeler
Lançamento da Editora Seguinte - que cedeu este exemplar em cortesia - Eu Beijei Shara Wheeler foi uma agradável surpresa. É o primeiro YA de Casey McQuiston, que escreveu os aclamados Vermelho, Branco e Sangue Azul e Última Parada. E foi um ótimo primeiro YA!
A história começa com o desaparecimento misterioso de Shara Wheeler, a garota mais popular e querida de False Beach. Chloe Green, no entanto, acha que esse desaparecimento é só fingimento. Ela conhece Shara melhor do que ninguém. Elas são arqui-inimigas na escola; e, um dia antes de sumir, Shara a beijou. Isso tem que significar alguma coisa, certo?
Chloe embarca, então, em uma missão de busca, e acaba descobrindo que Shara deixou para trás diversas pistas em formas de cartas. Talvez, ao fim dessa trilha de migalhas, esteja seu paradeiro, ou o motivo do seu sumiço, ou simplesmente a razão pela qual Shara a beijou.
Eu Beijei Shara Wheeler é uma espécie de Cidades de Papel encontra Meninas Malvadas. E eu adorei! A persona de Shara Wheeler é um enigma durante boa parte do livro, e um enigma no maior estilo Regina George. Mais e mais ela parece ter se escondido atrás da faceta de garota perfeita, deixando que o mundo conhecesse a perfeição para que não descobrisse o seu lado sombrio. E mais e mais Chloe quer desmascará-la.
Chloe, aliás, foi uma protagonista... complicada. Eu gostei e desgostei dela na mesma medida. Sim, estamos falando de adolescentes, e sim, eu entendo que adolescentes têm toda aquela carga emocional gigantesca, vivendo as muitas primeiras vezes, sentindo todos os sentimentos do mundo. Mas a Chloe ainda foi babaca além da conta em muitos momentos.
É compreensível, dada a sua personalidade. E não torna a leitura ruim, de modo algum. Contribui, na verdade. Porque uma personagem estável emocional e psicologicamente não teria movido essa história; teria desistido na primeira carta, porque, honestamente, quem se importa com os enigmas?
"E se você passar o resto da vida sem saber por que, em nome de Deus, Shara Wheeler te beijou?"
Chloe Green se importa. Ela é obsessiva, ela é perfeccionista, ela quer ser a número 1 em tudo. E sua maior rival desapareceu e deixou mensagens misteriosas especificamente para ela - e mais algumas pessoas - decifrarem. Então é isso que Chloe vai fazer, custe o que custar.
Sua jornada é muito de entender seus defeitos e elucidar suas qualidades. Chloe é uma garota abertamente bissexual em uma cidade conservadora e em Willowgrove, um colégio católico ultra-conservador. Ela tem uma família com duas mães maravilhosas que a amam e apoiam muito, mas esse é um cenário único e diferente de tudo que False Beach tem a oferecer. E é aos poucos que Chloe entende seus privilégios e como o mundo não gira ao redor da sua vontade.
Eu Beijei Shara Wheeler não teria funcionado sem sua protagonista obcecada e paranoica, sem sua possível antagonista misteriosa e multifacetada, e sem a imensidão de coadjuvantes maravilhosos que surgem no decorrer da história.
"É óbvio que Shara se escalou como a personagem principal de seu próprio romance do John Green."
O grupinho LGBTQIAP+ da Chloe é maravilhoso. É plural, e traz personagens que representam diferentes vivências e personalidades de maneira incrível. Casey faz um trabalho excelente em representar a juventude diversificada, em mostrar como, mesmo nessa cidadezinha conservadora e preconceituosa, há tanta gente diferente e incrível. Em como o preconceito oprime, mas não faz desaparecer, porque eles existem e importam e estão ali com sua voz e sua história.
Meus favoritos foram Smith e Rory, dois pontos importantes da história do desaparecimento da Shara. Respectivamente, seu namorado e o encrenqueiro que, pelo jeito, tinha alguma ligação emocional com ela. Chloe não os conhecia mais do que por vista, antes, mas se aproxima deles para fazer a investigação se desenvolver. E acaba percebendo que, ei, eles são gente também!
O fato de a Chloe ser forçada para fora dessa sua bolha de certeza e ego é muito importante para o desenvolvimento da história, e da personagem. E daqueles ao seu redor. Todos eles parecem estar reprimindo alguma coisa; se segurando, escondendo, se silenciando. Porque é o que a sociedade dessa cidadezinha os faz acreditar ser o melhor.
Casey McQuiston trabalha muito bem a questão de como a adolescência é plural e cheia de possibilidades. Mas também de como se molda de acordo com o ambiente, de como é forçada a se retrair para seguir em frente.
"Se você não é o que Willowgrove quer que você seja e se sua família acredita em certas coisas, isso pode deixar você meio doido."
Além disso tudo, é um livro muito engraçado. Tem um tom satírico em vários momentos, e em outros diverte simplesmente por fluir muito bem. Casey, aliás, aprendeu a beleza dos capítulos curtos! A narrativa está no seu ápice, também, com tiradas e diálogos rápidos que funcionam bem demais para os personagens.
A tradução do Guilherme Miranda é, como sempre, um suprassumo de perfeição. Eu amo as adaptações, como palavras do cotidiano jovem aparecem para representar os adolescentes; a edição da Seguinte tá a coisa mais linda também.
Eu Beijei Shara Wheeler é um clichê que oferece sopros de ar fresco no decorrer da história. É uma espécie de mistério com comédia romântica com sátira. Traz reviravoltas interessantes, mensagens maravilhosas e sensíveis e um final doce e gentil.
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