Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 19/03/2020
Já Li
Depois de maratonar "The Witcher" da Netflix, fiquei morrendo de curiosidade de ler os livros que inspiraram a série. Assim, nesta resenha, falarei sobre o primeiro volume da saga do Bruxo Geralt de Rívia, "O Último Desejo" de Andrzej Sapkowski.
Antes de tornar-se escritor, o polonês Andrzej Sapkowski era representante de vendas e formado em Economia. Começou fazendo alguns trabalhos de tradutor de ficção-científica e, então, descobriu-se apaixonado pela literatura.
A Saga do Bruxo Geralt de Rívia começou a ser escrita por ele em 1992, na época publicada apenas na Polônia, e foi finalizada em 2013, com o oitavo livro, mas a idéia toda de Geralt surgiu a Sapkowski no meio dos anos 80, quando ele ganhou um concurso de contos fantásticos em seu país.
A saga acontece em um continente sem nome. Após um período de guerra entre elfos e anões, os anões recuaram para as montanhas e os elfos se estabeleceram nas planícies e florestas. Os colonos humanos chegaram, iniciando uma série de guerras, e se tornaram dominantes. As raças não humanas, agora consideradas cidadãos de segunda classe, costumam viver em pequenos guetos dentro de assentamentos humanos.
A maioria das regiões do sul do continente foi tomada pelo Império Nilfgaard; o norte pertence aos reinos do norte fragmentados. A saga ocorre após a primeira grande guerra entre o Império Nilfgaard e os reinos do norte, com uma segunda guerra começando no meio da série.
Geralt, o personagem central, é um bruxo. Logo depois de nascer, a mãe de Geralt, Visenna, o dispensou para receber treinamento e se tornou um bruxo em Kaer Morhen. Geralt sobreviveu a numerosas mutações, graças às quais adquiriu habilidades físicas e mentais sobrehumanas. Ele resistiu às "mudanças" melhor do que a maioria, o que encorajou seus fabricantes a realizar procedimentos experimentais ainda mais perigosos, fazendo-o perder toda a pigmentação do corpo. Por causa de sua pele clara e cabelos brancos, ele também é conhecido como "Gwynbleidd", o Lobo Branco.
"O Último Desejo" contém seis contos sobre Geralt e farei um brevíssimo resumo de cada um:
A Voz da Razão: mostra como a sociedade reage aos bruxos e ao fato de que eles ganham dinheiro caçando monstruosidades. Geralt, embora estivesse exilado no Templo de Melitele, é confrontado para um duelo com anões.
O Bruxo: Geralt se encontra com o rei de Temeria, Foltest, para curar a filha do rei de uma maldição que a transformou em uma striga, que agora aterroriza a cidade, por uma recompensa valiosa. Para quem assistiu à série da Netflix, vai perceber que há um episódio inspirado neste conto.
Um Grão de Verdade: Geralt se mete em uma complicada história de amor entre duas criaturas e, ao final da luta, ele liberta uma delas, que volta a ser humana.
O Mal Menor: Na véspera de um festival, Geralt chega à cidade de Blaviken com uma carcaça de monstro a reboque. Ele procura Caldemeyn, o vereador da cidade, para tentar obter uma recompensa por matar o monstro. Caldemeyn recusa, mas um de seus guardas menciona que o mago da cidade pode encontrar valor nele. Quem assistiu a série também vai perceber que este conto é um dos episódios da primeira temporada.
Uma Questão de Preço: Geralt, que é oficialmente convidado para a festa como o senhor Lord Ravix de Fourhorn, senta-se ao lado da rainha Calanthe, mas ainda não foi informado qual é a razão do seu convite. Durante o jantar, ele tem uma longa discussão com a rainha sobre como ela vê bruxos, o que ela acha que é a profissão deles, e se ela o convidou pelas razões certas. Aqui temos a cena do casamento de Pavetta com o Ouriço e a tal Lei da Surpresa, que ninguém parece entender muito bem como funciona. Está lá na série, também.
O Fim do Mundo: Quando Geralt encontra o gênio e a maravilhosa Yennifer. O conto também foi transportado para a série.
Geralt é apresentado como um protagonista sólido e já desenvolvido; ou seja, do começo ao fim, independente do conto, o bruxo tem uma identidade bem definida e não parece estar disposto a mudá-la. O leitor já sabe que ele considera como amigo apenas o bardo e que tem um amor mal resolvido por Yeniffer, mas ainda não existem pistas de seu passado ou do desenrolar de seus relacionamentos anteriores.
Além disso, é difícil entender a sociedade e o contexto da saga sem conhecimento prévio. Como eu já tinha assistido a série e lido muitos artigos na internet, consegui apreender várias coisas do texto de Sapkowski mas, de outra forma, acho que eu teria ficado perdida na narrativa.
No geral, é um livro que entretém. Há alguns elementos épicos de fantasia que me soaram um pouco genéricos (especialmente o sexismo da sociedade). Os diálogos tinham muita exposição e variavam bastante em tom, mas pode ser que algo tenha se perdido na tradução do polonês. A mitologia é ótima e abre alguns grandes mistérios para a série.
Senti falta de maior presença de Yennifer que, para mim, na série, é o ponto alto da saga, mas saber que ela existe na trama me deixou curiosa e motivada a continuar lendo os próximos livros.
É uma leitura que eu recomendo parcialmente. Acho difícil engajar nela se não houver um interesse prévio pelo universo de Geralt mas, se este interesse existe, o livro não decepciona.
site: https://perplexidadesilencio.blogspot.com/2020/03/ja-li-112-saga-do-bruxo-geralt-de-rivia.html