spoiler visualizarduda 22/07/2023
Uma carta de amor, de filha para pai ?
"No one could be young forever. Not even her father, who had time-traveled, who had invented worlds, who had made things that would outlast him. Who had made her."
Eu não sabia que esse livro teria viagem no tempo. A história foi se desenvolvendo de modo que eu não via esperança pra protagonista, assim como ela não via, até que voltamos para o seu aniversário de 16 anos. O relacionamento pai-filha-tempo desenvolvido a partir desse ponto é muito cuidadosamente construído, lindo de ler. Emma Straub representa nas páginas todas as meninas apegadas aos pais, inimigas do tempo, lutando contra crescer e lidar com mudanças.
A protagonista Alice luta do jeito que pode contra a morte de seu pai: tenta salvá-lo, e quando vê que não pode, vive no passado, se alimenta de suas memórias favoritas dele. Alice cresceu se espelhando no seu pai, herdando suas crenças e limitações, e constantemente se pergunta como sua vida poderia ter ido diferente caso ela estivesse aberta para o novo. Quando ela está a beira de perder ele, sua âncora, é preciso aceitar que as pessoas mudam, principalmente as que amamos. A autora explica a doença de Leonard com sua insistência por visitar o passado, encontrar refúgio em quem ele e sua filha costumavam ser. Ao escolher não fazer o mesmo, Alice se afirma no presente e toma conta da sua narrativa. Ela vive no aqui e agora, aceitando que só pode controlar a si mesma.
Foi um livro que me tocou profundamente, uma perspectiva densa a qual sou grata de ter acesso enquanto tenho a idade da Alice dos anos 90. Nós sempre sentimos que temos pouco tempo ou controle, sem perceber que nós somos jovens o suficiente, nossos pais são jovens o suficiente, nós estamos compartilhando a vida juntos e isso é o suficiente por agora. Eu sempre tive medo de um mundo sem meu pai, apreciando cada parte de seus monólogos, registrando o que eu posso da sua imagem com medo de que se apague. O sentimento de Alice, querendo gravar cada conversa e lembrar dos pequenos detalhes de Leonard, foi algo forte com o qual eu pude me identificar. Como diz o último capítulo: "finais felizes são demais - esperança é honesta", a história termina com um aperto no peito e a crença de que não podemos fazer muito mais do que estar presentes e abertos para uma vida com amor. Quase todas as decisões podem ser mudadas. Nenhum caminho é definitivo. Ainda há esperança para Alice, ainda há esperança para nós - e isso é honesto. Esperança é bom.?
Mal posso esperar pra reler esse livro daqui há alguns anos, e novamente alguns anos depois, e ver quantas reflexões diferentes podem sair dessa história tão rica! Mais algumas frases que eu marquei:
"What did Alice have to mark her time on earth? She was frozen in amber, just pretending to swim. But she was ready to try."
"So many people lived their lives wishing to be understood. All Alice wanted was more time."
"Leonard's pale skin, Leonard's closed eyes, Leonard's shallow breaths. She could make him better, and so she did, over and over again, a magic trick. Leonard young, Leonard funny, Leonard drinking Coca-Cola and smoking. Leonard immortal, if only for the day."
"Maybe there were endless opportunities for parties, and for love, if you built a life that made room for them."
"But that love doesn't vanish. It's still there, inside everything you do. Only this part of me is going somewhere, Al. The rest? You couldn't get rid of it if you tried."
"Fiction, maybe, or art - were those religions? Believing that the stories you told could save you, and could reach everyone you had ever loved?"
"No one talks about that ? what it feels to love someone so much, and then have them change into someone else."