Luiz Pereira Júnior 24/07/2020
É muito fácil dizer sim...
Uma novela bem-escrita, mas sem muita originalidade é o que me veio à cabeça quando li essa pequena obra da literatura espanhola. Mas isso não desmerece o livro: a obra é pequena, mas só no tamanho e, apesar de não ser original (mais de uma sensação de déja-vu que tive ao lê-la), não se torna um simples plágio de outro autor ou de outra obra qualquer.
Há poucas informações sobre esse livro na internet e, por tal motivo, farei uma exceção e apresentarei um resumo da obra. Trata-se da narrativa de um homem mais velho que se arrepende (?) de ter emprestado seu caríssimo veleiro a um jovem de 17 anos, que morre (ou melhor, desaparece) em uma travessa oceânica (não é spoiler, já que nas primeiras páginas a informação é apresentada ao leitor).
Contado dessa forma, parece-me que o narrador busca se desculpar ao longo de toda a obra pelo que fez, buscando a boa vontade do leitor. Algumas perguntas simples desfazem a boa vontade do leitor em aceitar tais justificativas (ou melhor, desculpas): 1) por que emprestar um veleiro a um jovem de 17 anos, por mais amigo que o narrador possa ser?; 2) por que o narrador não demoveu o rapaz de enfrentar sozinho o oceano, por mais corajoso que o jovem possa ser?; 3) por que a única voz que vai de encontro a essa navegação é a da mãe do jovem, uma espécie de Velho do Restelo?
Dito isso, e tendo tais questões em mente, é realmente digna de ênfase a irresponsabilidade de um homem mais velho de ter agido como tal. Talvez a história fosse mais crível (ou mais desculpável aos olhos do leitor) se o empréstimo do barco e o incentivo a uma viagem que tudo indicava ser fadada ao fracasso desde o início tivessem sido dados a outro personagem (digamos, a um homem de 30 anos e não a um jovem de 17 anos que quer porque quer fazer a viagem que tanto tem de Odisseia quanto de Titanic).
No entanto, não se pode negar o mérito do autor ao construir uma história agradável de ser lida (agradável, mas não tola), bem estruturada (flashbacks, trechos de diários de bordo do rapaz, conversas com a turma do rapaz, lembranças dos pais...) e que nos leva a questionar nossas ações.
Para mim, o lema do livro poderia ter sido “a arte de dizer não”.
É muito fácil dizer sim para aqueles que amamos e ver um sorriso no rosto amado, mas, muitas vezes, o que muda nossa existência e nos faz sobreviver é a longa carreira de nãos que recebemos pela vida afora...