Livros da Julie 18/07/2022Desventuras em viagens e "causos" bizarros - a vida sempre rende muitas histórias-----
"escrever é um trabalho pesado e, como tudo na vida, não pode ser realizado sem muito esforço."
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"Interessante como os sonhos e as prioridades mudam ao longo do tempo."
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"de forma inesperada, como tudo de bom na vida, aparece a solução!"
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"quando se conhecia o inimigo, era possível se preparar ou evitar o combate."
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"Se tudo desse certo, a vida seria muita chata."
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"Algumas perguntas nunca devem ser feitas."
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"com fome, você vira outra pessoa, e os valores e as prioridades mudam."
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"no mundo competitivo em que vivemos, inovar é essencial, já que o fenômeno global chamado de disruption cresce de forma acelerada; o que se aprende hoje pode não significar nada no futuro."
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"Existem diferentes tipos de personalidades e reações no mundo, e é por isso que a vida é tão interessante."
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"Não existe nada que valha a pena na vida com risco zero."
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"O que seria a vida além de uma série de encontros e desencontros? Por isso, quem sabe planejar e decidir leva uma enorme vantagem."
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"o segredo de um bom casamento é engolir sapos, ceder e definir áreas de domínio. Assim, a vida flui melhor e as decisões são mais fáceis."
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"Nós, brasileiros, (...) sempre achamos que nada vai acontecer. Temos o dom de enfrentar crises e desastres dos mais variados tipos, mas, quando se trata de fenômenos da natureza, nos limitamos às enchentes, que na verdade nem são exatamente naturais, mas resultado de muitas ações e decisões humanas, quase sempre questionáveis."
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"é próprio do ser humano gerar conflitos, e estes surgem com maior frequência quando rotinas são alteradas, papéis não estão claros ou a autoridade não é determinada"
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"O que não se vê, não se teme."
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"uma das missões que mais afligem o homem moderno: a execução de uma reforma em um apartamento."
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"Muitas vezes, uma visão de fora minimiza o problema. As pessoas, quando imersas nos traumas, tendem a dramatizar demais as situações"
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A vida é divertida foi a leitura coletiva oficial de junho do Clube Literário FerAvellar (@clubeliterarioferavellar).
Trata-se de um livro de contos, baseados em experiências pessoais. No primeiro, chamado Prólogo, o autor explica como e porque resolveu se aventurar no universo da escrita. Inspirado por autores como Agatha Christie, Ken Follett e Stephen King, Juarez fala sobre o que estudou a respeito, seu processo criativo, a escolha do tema e as dificuldades enfrentadas até a publicação do livro.
A escrita do autor atrai a atenção e transborda criatividade. Alguns contos são bem singelos, memórias do passado evocadas com bastante carinho e nostalgia. Outros são inesperadamente insólitos, até mesmo surreais. Boa parte desses trazem histórias de viagens pelo Brasil e pelo exterior, relatos de desventuras causadas por lacunas no planejamento e impulsividade ao tomar decisões. Os perrengues chiques passados mundo afora são inacreditáveis. Inclusive, seria interessante um spin-off com dicas e exemplos do que não fazer em uma viagem. Porém são essas confusões que nos dão agora a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre lugares como Portugal, França, Havaí, China, Japão, Turquia e Peru.
É bem verdade que a maioria das situações narradas, mesmo as ocorridas no Brasil, estão relacionadas a vivências que não são comuns à média da população, o que pode dificultar a identificação do leitor. Contudo, os "causos" do interior dão um certo equilíbrio a esse retrato do nosso país, ainda que contenham a perspectiva e o olhar curioso de quem vive na cidade grande.
"Contar uma história é muito mais fácil do que escrevê-la", como atestou o próprio autor. Transpor episódios reais para o papel é tarefa complexa. É difícil dar um arremate adequado ao texto, manter o tom cômico na transição ou explicar as piadas internas oriundas das experiências vividas com a família e amigos. Mas Juarez não poupa esforços para contextualizar as passagens e fazer com que a graça e a emoção das histórias alcance o público.
Cabe aqui um destaque para as várias referências literárias que permeiam os contos e para a menção à impressionante Capela dos Ossos em Évora e à viagem no icônico Expresso do Oriente (um antigo sonho de infância).
Mesmo os esparsos trechos que fazem alusões um tanto questionáveis a temas em voga nos levam a importantes reflexões sobre a necessidade de constantemente revermos e atualizarmos nosso entendimento e posicionamento social sobre aspectos relacionados ao sexismo, à estereotipização, à banalização da tragédia, à romantização da criminalidade e ao exotismo cultural.
De todo modo e de fato, qualquer que seja a nossa visão de mundo, "quem vive bem a vida tem histórias para contar". Entre trabalho, preocupações, lazer, passeios, espetáculos artísticos, maravilhas naturais e tudo o mais que a vida oferece, não é incomum passarmos por uma variedade de situações inusitadas e dignas de nota, e Juarez vivenciou uma boa cota delas. E é por meio do registro dessas lembranças que percebemos o tanto que há de oportunidade na literatura para edificar e transformar, além de divertir e sensibilizar.
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