Carous 07/08/2022Nota: 3,5
Em
Maisei Dobbs, adorei a maneira como Jacqueline retrata as questões da guerra e do pós-guerra. É exatamente o jeito que mais me agrada e conquista. Continuo apaixonada pela abordagem da autora sobre o período histórico na sequência. É de uma sensibilidade, delicadeza e precisão surpreendentes e que me deixam sem palavras.
Também continuo com a mesma opinião sobre a protagonista: desinteressante. Parece ruim, mas não é. Maisie Dobbs não é uma personagem marcante; na vida real, seria igualmente imemorável e tudo bem. Mas o problema é esse: na ficção, a protagonista não pode ser a personagem mais apagada da história, que não conquista o leitor, e não o faça torcer por ela. Pelo menos todos os elementos ao redor dela compensam sua falta de graça.
Acredito que o problema seja porque ela é correta demais, boazinha demais. Boa filha, boa aprendiz, boa patroa. Acaba se tornando unidimensional. Na vida real, uma pessoa assim não me incomoda (confesso que eu sou assim também, sem surpresas alguma), mas na ficção acaba não funcionando tão bem, acho. Simpatizo com ela porque ela é uma pessoa
nobre e compadecida, não porque seja legal.
O segundo livro da série se chama
O caso das penas brancas e por mais da metade dele, eu desconhecia a razão do título. Tinha minhas suspeitas por algo que Maisie Dobbs encontrou nas cenas do crime - mas que a autora propositalmente manteve sigilo do que ela pro leitor - e elas só foram confirmadas em mais de 60% da leitura.
Tenho em mente que esta série de investigação é diferente dos romances policiais já publicados por aí. Há comparações com Agatha Christie (por causa do período histórico, não porque Jacqueline escreve com a mesma maestria da Rainha do Crime. Desculpe, mas é verdade), mas eu vejo mais semelhanças com as histórias de Sherlock Holmes (não me batam!) porque, enquanto Agatha Christie deixa pistas espalhadas pela história - o leitor é que não consegue conectar uma a outra e chegar ao desfecho ou ao criminoso -, sir Arthur Conan Doyle e Jacqueline Winspear retêm informações do leitor até o momento que convenientemente revelam para a gente juntar o quebra-cabeça. O estilo de Agatha Christie é muito mais audacioso e complicado de realizar, mas agrada o leitor que é desafiado a descobrir o culpado.
Enfim, divagações minhas. São escolhas diferentes e que cabem ao autor, tudo certo. Mas que me fazem compreender as notas baixas da série. Não me incomoda porque encontrei outros elementos na história para amar e me interessar.
Outro motivo para não chegar à conclusão correta neste livro foi desconhecer completamente o fato da Ordem das Penas Brancas. Se soubesse disso, talvez teria rascunhado a razão por trás dos crimes e do desaparecimento.
O que notei e foi o que realmente me incomodou foi o excesso de descrições. De lugares, objetos, estabelecimentos, roupas, comportamentos. Parágrafos e parágrafos que a autora ia a fundo nos detalhes do objeto, de como alguém conversava. Não reparei isso no livro anterior e fiquei me perguntando o que houve de um livro pro outro. Tive a impressão que ou a autora fez isso para sobrecarregar o leitor com tanta informação irrevelante que ele se distraía das cruciais que deveria guardar, ou ela fez isso para deixar o livro mais robusto ou alguém deu o péssimo conselho de que se perder em detalhes sem fim é o que faz uma boa história, o que prova amadurecimento na escrita de um autor.
Só sei que foi chato e atrapalhou meu andamento com a leitura. Havia dias em que eu deixava o livro de lado mais cedo porque não aguentava mais ela descrevendo a roupa dos personagens nos mínimos detalhes, a louça, o penteado de alguém, etc. Era demais.
Fora isso, nada me incomodou a ponto d'eu baixar minha nota, embora questione a Maisie Dobbs ser descrita como inteligente e sagaz quando toda conclusão a que ela chegava era por intuição, sexto sentido ou sentir o espírito da vítima a guiando. Nada de evidências de fato, métodos técnicos. Chute até eu consigo. Então espero que a autora reveja isso pro próximo livro.
Não compreendi por que a autora enfatizava que Maisie esquecia de comer, passava o dia só com o café da manhã no estômago. Ela retirou o empanado do peixe! Pra quê? Será que a autora está sutilmente avisando que no próximo livro vai abordar além do caso a desordem alimentar da personagem? Só isso explica tantos comentários sobre a falta de refeição de Maisie.
Desde o livro anterior tenho a sensação de que esta série é voltada pro público europeu, quiçá inglês. Em
Maisie Dobbs havia menções à batalhas durante a Primeira Guerra Mundial que imagino que só europeu saiba de cor e em detalhes o que houve e neste tem a questão da geografia da Inglaterra. Maisei vai pra lá e pra cá em um dia e eu ficava estarrecida porque parecia que em um único dia ela passava por 3 cidades diferentes. Claro, posso pesquisar essa informação no Google, mas seria mais ágil ter isso nas notas de rodapé (ouviu, Arqueiro?). Assim como as moças que distribuíam penas brancas aos rapazes.
Por falar em Arqueiro... a editora vacilou muito na revisão deste livro. Palavras repetidas nas frases que podiam ser eliminadas ou substituídas, frases mal escritas. Palavra faltando nas orações, informações contraditórias. No capítulo 11, o personagem afirma que algo aconteceu na época do funeral da mãe da esposa e algumas páginas depois ele diz que a mãe da esposa está arrasada e sem falar com ele (o que faz sentido se a mulher está MORTA). Não sei se foi erro original da história ou a tradução/revisão que comeu mosca.
Raramente faço isso, mas pretendo enviar um e-mail à editora implorando por outra revisão antes da 2a reimpressão do livro. É até desrespeito com o leitor.
Acho que já comentei tudo que achei do livro, mal posso esperar pelo próximo.
Ps.: não acho que há um triângulo amoroso na história. Mas acho que Maisie deveria eliminar o inspetor Stratton como futuro pretendente. Ele foi bem grosseiro com ela durante a investigação.
Ps.2: não me compadeci do sr. Waite. Sorry not sorry