Luiz 31/12/2022
No Grande Jogo das Nações, somos cartas fora do baralho...
Livro: Metapolítica - Transformação global e guerra de potências
Autor: Daniel Estulin
Estulin é um escritor e jornalista lituano com vários livros publicados geralmente sobre temas como Nova Ordem Mundial, Clube Bilderberg, Globalismo, transumalinismo e etc., nesta obra o tema permanece.
O autor propõe que por detrás das crises políticas geradas pelo Covid-19, a proposta do Novo Reset Econômico, os sistemas de microchips e Big Data, o dinheiro virtual e a amplitude do sistema de controle, existe um grande jogo político que transcende nações. O autor faz uma breve distinção entre a análise baseada na Geopolítica e a da Metapolítica:
"O resultado fundamental distinto entre a análise geopolítica e a avaliação metapolítica dos eventos provém da relação com a categoria do tempo. Trata-se de um progresso linear (geopolítico, duas forças opostas) versus mudanças nos ciclos (metapolítica, três forças em um mesmo conjunto). Nos modelos do Grande Jogo, esse conceito é representado como um conflito em um "grande tabuleiro de xadrez" entre as "brancas" e as "pretas" em seu movimento de avanço versus o "Jogo de cartas da história" (o jogo de bridge), em que há três ou mais jogadores, e os movimentos seguem um padrão circular.
Na geopolítica, o tempo é apenas uma duração do passado para o futuro (progresso) em formato de flecha, traçada em uma linha de datas (números). Na metapolítica, o tempo também é uma sucessão de eventos nos ciclos do Ser, em que a história é a soma das ondas de distintos períodos de tempo."
(Daniel Estulin, p. 169-170)
O conflito político em si já é complexo, quando abordamos esse conflito político em nível global envolvendo nações e seus múltiplos interesses, a leitura já se torna muito mais complexa, a Metapolítica incrementa esse nível de complexidade, não somente sobre a ótica de um grande jogo global realizado por nações e blocos, mas também com fortes elementos metafísicos e religiosos que explicam e compõem o grande jogo das nações.
Pra compreender esse grande jogo, o autor divide o livro em 3 partes:
Parte 1: Os Projetos Globais (contém 6 capítulos);
Parte 2: O Mundo Depois da Crise (contém 3 capítulos); e
Parte 3: A América Latina como Ponto-Chave na Nova Ordem Mundial (contém 3 capítulos).
A Primeira Parte, e na minha opinião a melhor parte do livro e também a mais longa em conteúdo, o autor apresenta os conceitos necessários para compreendermos a formação das estruturas de poder, o sistema de valores, a idéia de Projeto Global, suas articulações e interesses, já na Segunda Parte, o autor comenta principalmente sobre as questões econômicas oriundas do que foi apresentado na parte anterior, ou seja, a forma como o sistema econômico pós Bretton Woods, a criação do FED, Consenso de Washington, entre outros temas influenciam nesse Grande Jogo de nações, a Terceira Parte, trata principalmente do Bloco Sul-Americano, a importância da América Latina, em especial Venezuela e Brasil, bem como a questão alimentícia e pluvial, para o Grande Jogo e a nova ordem mundial.
O autor lança mão dos principais conceitos para entender o conflito metapolitico que se desenrola, seu elemento base é o Projeto Global (PG), no cenário internacional somente participam do Grande Jogo aqueles que possuem projetos globais bem desenvolvidos e estruturados. Segundo Estulin, no passado foi o surgimento do Capitalismo como estrutura financeira e social que possibilitou o surgimento de redes e grupos de interesse com idéias "conspiracionistas".
O Projeto Global (PG) é uma idéia supranacional, capaz de fazer com que os indivíduos possam ou não aderi-la, e que serve como referencial para determinar um sistema de valor dentro de determinado país ou bloco, a partir disso, surgem as coalizões e tendências globais. O PG necessariamente implica em laços econômicos, políticos e culturais. Um PG é formado historicamente por uma sequência de eventos:
I) Idéia
II) Norma
III) Política
IV) Hierarquia
V) Império
VI) Caos
Uma vez que uma Civilização, ou um projeto de civilização, possui uma IDÉIA, ou "teoria", que seja capaz de fornecer uma visão de mundo, uma explicação para o funcionamento do mundo e das pessoas (em qualquer lugar e país) o surgimento de uma Ética, temos as bases para se pensar numa NORMA, que será baseada nessa ética dando origem aos regulamentos, normas, códigos, instruções, costumes e etc, surgindo assim um Sistema de Valores (as regras e dogmas que a sociedade cria) e um Sistema de Significados (a mentalidade surgida da vida prática do indivíduo), a NORMA é o que da forma, contorno, para o PG; na fase POLÍTICA, começa-se a produzir uma estrutura interna mais elaborada para se diferenciar dos PGs externos, uma estrutura administrativa, definição de aliados e inimigos, poder militar, político e econômico, nessa fase é imprescindível que haja tanto uma elite como um país aliado que reforce a IDÉIA do PG para ter maior caráter de expansão e influência, a HIERARQUIA é caracterizada por pleno poder de expansão que o PG possui, e a capacidade de multiplicação e divulgação que das idéias internas e externas; IMPÉRIO é a fase em que o PG está no seu auge e consegue expandir-se influenciando outros PG, mas é seguindo da etapa CAOS em que a sua lógica interna torna-se burocrática, instável e perde poder ideológico para outro projeto, ao passo que um PG começa a compensar suas falhas internas devido as constantes e rápidas mudanças sociais, culturais e econômicas, ou ele entram em colapso ou se reestrutura para corrigir suas falhas, algumas vezes chegando a violência, ainda que não seja desejável.
? Um PG para se manter forte e influente precisa ter "capital":
1) Demográfico -> poderio numérico de pessoas que aderem a este projeto;
2) Cultural -> poderia ideológico;
3) Econômico -> poderio econômico e militar
Mas não somente isso, é necessário também que um PG seja capaz de guerrear em 3 esferas distintas, da chamada "Tríade Geopolítica":
- Guerea de ARES -> conflito armado
- Guerra de ATENA -> conflito econômico
- Guerra de APOLO -> conflito psico-histórico
"[...] as descrições existentes dos distintos tipos de guerra, a seguinte tipificação de guerra, principalmente cunhada pelo futurista russo Sergei Pereslegin [...] Ares (conflito armado), Atena (conflito comercial e econômico), Apolo (conflito psico-histórico). Parece-me que deveríamos falar em um esquema fechado do tipo "pedra, papel e tesoura", em que o guerreiro perde para o mercador, o mercador, para o sacerdote; e o sacertode, para o guerreiro. [...]
É por isso que se um jogador não puder travar os três tipos de guerra, no longo prazo estará fadado ao fracasso."
(Daniel Estulin, p. 88)
? Geralmente suas ideologias dos PG jogadores do Grande Jogo se desenvolvem em 3 eixos possíveis:
- Conservador × Liberal
- Direita × Esquerda
- Nacional × Global
? Um projeto deve possuir ao menos 3 requisitos para ser considerado um PG propriamente dito e independente:
1) Conceituação em Escala Global;
2) Estrutura Financeira;
3) Aparato Independente de Inteligência Global;
? Isso posto, existiram ao longo da histórias diversas tentativas de Projetos, são eles:
- PG judeu do Velho testamento;
- PG Cristão / Bizantino
- PG ProtoCapitalista / Reforma Protestante
- PG Capitalista/ Tecnológico -> Ocidental (com base nos dois anteriores)
- PG Islâmico
- PG Asiático
- PG Chinês
- PG "Vermelho" (com base nas ideias socialistas utópicas e ausência mística)
? Mas atualmente somente estão em vigor:
- EUA (Pró Trump)
- Europa
- Globalista/Liberal de direita
- Mundo Islâmico
- América Latina
- Grã Bretanha
- Nova URSS
- China
? Porém, como comentado anteriormente, aspectos políticos e geopolíticos, comportam essa descrição, mas no campo da Metapolítica, o elemento metafísico também é considerado para o Grande Jogo das Nações, então a leitura é incorporado então Estulin enriquece com conceitos do:
1) I-Ching (a lei da mudança)
2) Trindade universal (corpo, alma e espírito)
3) Árvores e Ramificações de Israel ( fariseus, saduceus, essênios, josefitas, "não-possuidores")
4) Guerra Híbrida
5) Leitura Econômica (os cambistas, avaliadores e os "que fazem empréstimos")
"Os chineses conhecem bem a Lei da Mudança. Desde antes do Dilúvio, há mais de quatro mil anos, os chineses acreditam que um (1) se divide em dois (2). Uma união de três forças (3) dá lugar a mudança no ciclo, e o retrato do mundo se divide em cinco elementos (madeira, fogo, terra, metal e água) e quatro pontos cardeais (o Dragão Azul do Leste, o Pássaro Vermelho do Sul, o Tigre Branco do Ocidente e a Tartaruga Negra do Norte) e o Centro.
Ao mesmo tempo, o "Sul domina o Oeste", "O Oeste domina o Leste", "O Leste domina o Centro", "o Centro domina o Norte" e o "Norte domina o Sul". [...]"
(Daniel Estulin, p. 223)
"Aplicada ao homem, a Trindade é o corpo, a alma e o espírito. Da mesma forma, o código da civilização é triplamente programado em número (genética do corpo), uma cor (filtros das ressonâncias da alma) e um tom (música das esferas - Espírito). Aplicada à sociedade, a Trindade é o poder, honra e consciência. O poder se divide no conceitual (sacerdotes), no monetário (comerciante) e na força física dominante (guerreiros)."
(Daniel Estulin apud Andrey Devyatov, p.178)
? Mas, o que seria esse "O Grande Jogo" tão citado? Estulin explica:
"O bridge é um jogo de cartas que utiliza um baralho padrão de 52 cartas, em que cada um dos quatro jogadores recebe treze. Se há seis jogadores, agregam-se dois curingas ao baralho (preto e vermelho), e as 54 cartas são divididas igualmente entre os seis participantes. É jogado por quatro ou seis jogadores, divididos em duas ou três equipes que competem entre si (duas equipes de três jogadores, ou três equipes de dois jogadores, mas nunca individualmente). Por fim, as equipes se sentam frente a frente, ao redor da mesa.
Ao contrário do xadrez, que a elite exitosamente utilizou como bode expiatório para convencer o mundo de que é "o" jogo usado pelos poderosos nas decisões políticas globais, o bridge, o "Grande Jogo de Cartas", é jogado em um círculo em sentido horário, no qual os representantes das civilizações globais existentes (projetos globais) se sentam à mesa do jogo da história. Nos bastidores, ficam os planejadores globais, porta-vozes de uma visão conceitual de mundo. Para se sentarem à mesa, os jogadores devem ter projetos globais completamente desenvolvidos."
(Daniel Estulin, p.211-212)
? Naipes do jogo:
Ouros ?: Lei e ordem, sistema político. Tudo que se chama de "poder".
Paus ?: Tudo relativo à riqueza, como a economia e os interesses financeiros.
Espada ?: Sociedade, tudo relativo ao bem-estar social.
Copas ?: Ideologia, valores culturais.
? Enquanto que os jogadores atuais do Grande Jogo são 6, que sentam-se à mesa, como Projetos Globais bem definidos:
1) Anglo-Saxão -> PG da Nova Babilônia do estilo estadunidense, financista/financeiro-liberal, globalização;
2) Europa Romano-Germânica -> PG da Grande Europa/Aristocracia Internacional "Negra";
3) Reino Eterno de Israel -> PG da Nova Jerusalém, os Executores do Plano de Salomão;
4) Mundo Islâmico -> Novo Califado "Vermelho" do Islã político;
5) China -> "Grande Unidade" - Datun dos povos de um só destino;
6) Mundo Russo -> Grande União Eurasiática, Nova Horda - Herdeiros de Gengis Khan e Stálin.
"Se a geopolítica é a doutrina do espaço, do conflito entre terra e mar e da relevância da interação estratégica entre os aliados do Grande Jogo, então, a perspectiva asiática é a doutrina do tempo, dos fundamentos cósmicos da mudança, da trindade da harmonia e da execução, no momento adequado, das ações em uma escala de globalismo."
(Daniel Estulin, p.187-188)
Tudo que abordei, em grande medida, é referente à primeira parte do livro, o que o torna muito interessante a leitura e diferente, essa perspectiva combinada de jogo, política, "conflito cósmico ou metafísico", religião, cultura e economia, torna o livro único, mas na minha opinião, perde um pouco de força nos partes e capítulos seguintes, houveram várias partes que achei a explicação complexa e pouco objetiva no propósito, o que me coloca na dúvida se a dificuldade foi inteiramente minha por não ter o conhecimento básico necessário pra compreender algumas coisas postas ou se de fato, há problemas na escrita e raciocínio do autor. Acrescento que a conclusão foi bem aquém, esperava algo mais elaborado, mas levando-se em consideração toda a parte 1 do livro, foi o bastante pra dar ao menos 4 estrelas pro livro.
"Fundado em 1968, o Clube de Roma é formado por alguns dos membros mais antigos da Nobreza Negra veneziana. Como explico em meu livro TransEvolution, The Coming Age of Human Deconstruction, o Clube é a instituição mais importante do mundo na implementação do plano malthusiano de desenvolvimento. Um dos relatórios do Clube revela sua verdadeira intenção: "na busca de um novo inimigo que nos unisse, ocorreu-nos que a poluição, a ameaça do aquecimento global, a falta de água, a fome e outros males similares cumpriam as condições que buacávamos".
E o relatório termina assim: "Portanto, o verdadeiro inimigo é a própria humanidade. Por essa razão, as principais instituições internacionais estão impulsionando políticas de retrocesso tecnológico, bem como a redução de bilhões na população mundial". Caso não saibam, isso é genocídio."
(Daniel Estulin, p. 376)